Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 9, 51-62
Oração do dia
Ó Deus, pela vossa graça, nos
fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do
erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Lucas 9,51-62)
Proclamação do
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
9,51 Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado
deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém.
52 Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido,
entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada.
53 Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para
Jerusalém.
54 Vendo isto, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que
mandemos que desça fogo do céu e os consuma?”
55 Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente.
56 O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos
homens, mas para salvá-las.] Foram então para outra povoação.
57 Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: “Senhor,
seguir-te-ei para onde quer que vás”.
58 Jesus replicou-lhe: “As raposas têm covas e as aves do
céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.
59 A outro disse: “Segue-me. Mas ele pediu: Senhor,
permite-me ir primeiro enterrar meu pai”.
60 Mas Jesus disse-lhe: “Deixa que os mortos enterrem seus
mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus”.
61 Um outro ainda lhe falou: “Senhor, seguir-te-ei, mas
permite primeiro que me despeça dos que estão em casa”.
62 Mas Jesus disse-lhe: “Aquele que põe a mão no arado e
olha para trás, não é apto para o Reino de Deus”.
Palavra da Salvação.
Comentário
No esquema do Evangelho de Lucas, o segundo
grande bloco vai de 9, 51 até 19,
28, e consiste em seguir o caminho de Jesus e os seus discípulos, rumo a
Jerusalém. Nestes capítulos Jesus
educa os seus discípulos sobre o que significa segui-lo, acreditar nele. Logo antes da viagem tem a frase “ Se alguém quer me seguir, renuncie a si
mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (9, 23). No trecho de hoje, Jesus vai explicitar
de novo as exigências para quem quer assumir os desafios do Reino no seu
seguimento.
No início, Lucas enfatiza que Jesus “tomou a firme decisão de partir para
Jerusalém”. Aqui não se trata
somente de decidir de fazer uma viagem, de participar de uma peregrinação. Muito mais é a decisão de seguir a sua
missão até as últimas conseqüências, pois Jerusalém será o local do conflito
final entre as forças do Reino e do anti-Reino, o local da sua morte e ressurreição. Daqui para frente Jesus assume mais
ainda o papel de pedagogo divino, mostrando pela sua palavra e ações, pela sua
paixão, morte, ressurreição e ascensão, o caminho que leva ao Pai.
Esta tarefa de
educação dos discípulos implica todo um trabalho de mudar a mentalidade deles,
formada pela religião e ideologia reinantes. Inicia-se com o incidente da aldeia samaritana que não quis
recebê-los. Havia séculos existia
uma rixa entre judeus e samaritanos.
Por causa da mistura de raças desde a ocupação assíria da Samaria depois
de 721 a.C, (cf. II Rs 17, 24-41),
os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Da sua parte, os samaritanos tinham uma grande raiva dos
judeus desde que o rei Asmoneu João Hircano destruiu duas vezes o seu Templo no
Monte Garazim, no fim do segundo século a.C. Os discípulos, representados por João e Tiago, querem
demonstrar o seu poder, pedindo que Deus destruísse a aldeia – mostrando que a
sua concepção do messianismo de Jesus era de poder política e de dominação. Jesus os repreendeu, pois o Reino de
Deus não se constrói como os reinos terrestres, com força de armas e dominação,
mas com doação e solidariedade.
Os versículos 57-62
continuam com a lição sobre a natureza do discipulado. Diante de três possíveis seguidores,
Jesus desmancha as suas ilusões, mostrando que o seguimento dele exige
disponibilidade total, tanto dos bens materiais, como de outras seguranças
humanas, como a família e os laços afetivos, coisas boas em si. Nos faz lembrar do chamado dos
primeiros discípulos no início do Evangelho, que tiveram de deixar a segurança
do emprego, “deixando tudo” em Lc 6, 11.
Também nos recorda o cego Bartimeu, que em Mc 10, 50, antes de ser
curado da cegueira, tem que lançar fora o seu manto – símbolo da sua única
segurança. Para seguir Jesus temos
sempre que deixar alguma segurança. A nossa tendência humana é de querer seguir
Jesus, sem que nos custe algo, colocando a nossa fé e confiança nas seguranças
humanas e não nos valores do Reino.
Ou seja, um seguimento dentro de uma prática religiosa acomodada,
confortável, que pouco ou nada tem a ver com o desafio de Jesus para que
“peguemos a cruz todos os dias e o sigamos” ( Lc 9,23). A radicalidade do discipulado – que não
é privilégio de uma elite religiosa, mas que provêm do batismo – é sublinhada
nos últimos versículos do texto de hoje: “quem
põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus”(v.
62). Faz eco a outras frases
evangélicas “ Não se pode servir a dois mestres” (Mt6,24), “Não é possível
servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), “vende tudo o que tens, dá os pobres e
segue-me” (Lc 18,22) . Ser
discípulo/a de Jesus envolve toda a nossa vida, não é uma adesão intelectual
somente, mas uma mudança radical em nossa maneira de ver e julgar a realidade
ao nosso redor, e de agir diante dela.
Ser cristão não é ter uma religião de consolações, mas o consolo de uma
religião que nos compromete com o projeto do Pai e de alguma maneira nos levará
até a Cruz – e a Ressurreição. É
deste tipo de seguimento que o nosso mundo de hoje tanto precisa. Cabe a cada um/a descobrir o que este
desafio significa na prática, na realidade da sua vida.
Salmo 15/16
Ó Senhor, sois minha herança para sempre!
Guardai-me, ó Deus,
porque em vós me refugio!
Digo ao Senhor:
“Somente vós sois meu Senhor:
nenhum bem eu posso
achar fora de vós!”
Ó Senhor, sois
minha herança e minha taça,
meu destino está
seguro em vossas mãos!
Ó Senhor, sois minha herança para sempre!
Eu bendigo o
Senhor, que me aconselha
e até de noite me
adverte o coração.
Tenho sempre o
Senhor ante meus olhos,
pois, se o tenho a
meu lado, não vacilo.
Ó Senhor, sois minha herança para sempre!
Eis por que meu
coração está em festa,
minha alma rejubila
de alegria
e até meu corpo no
repouso está tranqüilo;
pois não haveis de
me deixar entregue à morte
nem vosso
amigo conhecer a corrupção.
Ó Senhor, sois minha herança para sempre!