Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
TRIGÉGIMO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 19,1-10
“Hoje a
salvação entrou nesta casa"
Oração do dia
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e
filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao
encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Lucas 19,1-10)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
19,1 Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.
2 Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos
recebedores de impostos.
3 Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por
causa da multidão, porque era de baixa estatura.
4 Ele correu adiande, subiu a um sicômoro para o ver, quando
ele passasse por ali.
5 Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e
disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua
casa.
6 Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente.
7 Vendo
isto, todos murmuravam e diziam: Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...
8 Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe:
Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado
alguém, restituirei o quádruplo.
9 Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa,
porquanto também este é filho de Abraão.
10 Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava
perdido.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
De novo entra em
cena a figura de um “publicano”, desta vez de nome conhecido - Zaqueu! Os
governantes arrendavam áreas do país para publicanos ricos, que embolsavam o
que conseguiam extorquir além das taxas estabelecidas. Estes chefes dos
publicanos (p. ex. Zaqueu) empregavam outros para fazer a cobrança - e
enfrentar a celeuma do povo - sentados nos telônios nas portas das cidades e
nas encruzilhadas das rotas das caravanas (p. ex. Levi).
Zaqueu era chefe
dos cobradores de impostos da cidade de Jericó, e por isso, por causa da sua
extorsão, muito rico - e com certeza muito odiado e desprezado.
Porém, Lucas nos
mostra que ninguém é tão perdido que não possa ser salvo pela misericórdia de
Deus. Ninguém está além da possibilidade de salvação. Com umas rápidas
pinceladas, ele traça o caminho da conversão e salvação de Zaqueu.
Com certeza, Zaqueu
tinha ouvido falar da atividade e dos ensinamentos de Jesus, e tinha uma enorme
vontade de conhecer mais de perto este homem tão diferente dos outros rabinos,
ou mestres religiosos, do seu tempo. Nem levava em conta perder a sua
dignidade, subindo em uma árvore - o importante mesmo era não perder o momento
de Jesus passar. Jesus acolhe este gesto de busca - olha mais para esta chama
de bondade do que para toda a maldade praticada anteriormente por Zaqueu.
Pronuncia as palavras que iriam mudar para sempre a vida de Zaqueu: “Desça
depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar em sua casa.” (v. 5)
Por causa dessa
iniciativa, o próprio mestre se torna alvo de críticas por parte dos “justos”:
“Ele foi se hospedar na casa de um pecador” (v. 7). Como sempre, a novidade do
Reino, trazida por Jesus rompe todos os esquemas sociais e religiosos
pré-concebidos!
Diante do gesto de
amor da parte de Jesus, trazendo para si o opróbrio normalmente reservado para
Zaqueu, o publicano responde com um gesto concreto de conversão: “A metade dos
meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro
vezes mais” (v. 8)
Não é uma conversão
teórica, mas, muito concreta, e passa pelo econômico - devolver o dinheiro
roubado, partilhar os bens! O amor de Jesus conseguiu o que o ódio e o desprezo
jamais conseguiriam - a conversão de um pecador - “Hoje a salvação entrou nesta
casa”. Mais uma vez Jesus ilustrou de maneira muito concreta que Ele veio
“procurar e salvar o que estava perdido”.
A história nos convida a assumir cada vez mais as atitudes
tanto de Jesus como de Zaqueu - de um lado, compreensão, misericórdia e perdão
diante dos erros alheios; do outro, reconhecimento da nossa própria necessidade
de perdão e conversão contínua, para que se dê em nossa vida a experiência de
Zaqueu, de que “Hoje a salvação entrou nesta casa!”
Salmo 144/145
Bendirei eternamente vosso nome;
para sempre, ó Senhor, o louvarei!
Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu rei,
e bendizer o vosso nome pelos séculos.
Todos os dias haverei de bendizer-vos,
hei de louvar o vosso nome para sempre.
Bendirei eternamente vosso nome;
para sempre, ó Senhor, o louvarei!
Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.
Bendirei eternamente vosso nome;
para sempre, ó Senhor, o louvarei!
Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem,
e os vossos santos, com louvores, vos bendigam!
Narrem a glória e o esplendor do vosso reino
e saibam proclamar vosso poder!
Bendirei eternamente vosso nome;
para sempre, ó Senhor, o louvarei!
O Senhor é amor fiel em sua palavra,
é santidade em toda obra que ele faz.
ele sustenta todo aquele que vacila
e levanta todo aquele que tombou.
Bendirei eternamente vosso nome;
para sempre, ó Senhor, o louvarei!
Se quiser aprofundar o tema sobre Zaqueu, leia o artigo do exegeta Frei Rivaldave Paz Torquato, O.Carm.
RESUMO: O artigo é uma abordagem do episódio de Zaqueu na perspectiva da reciprocidade do olhar e suas implicações. Querendo ver Jesus, Zaqueu é visto por ele. O ver como experiência de um encontro com Jesus que muda a vida, que permite ao excluído redimensionar a própria existência e sentir-se impelido a ver também o outro. A experiência que transforma religião em ética. Para tanto, são apresentados alguns exemplos no AT mostrando que o ver de Deus, antes de ser uma expressão de controle moralizante e punitivo, exprime sua providência que abre sempre uma nova possibilidade ao ser humano na sua miséria. Enquanto espera-se que o que é visto, também veja. Este duplo ver (divino e humano) no AT juntamente com uma breve contextualização literário-teológica do próprio Evangelho servem de base para a abordagem do texto lucano. Ao mesmo tempo o episódio de Zaqueu deixa transparecer claramente a crítica de Jesus contra uma ideologia de exclusão disfarçada em nome da fé.