terça-feira, 30 de abril de 2013

6º DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C

Jo 14, 23-29

Eu lhes dou a minha paz

Oração do dia

Deus todo-poderoso, dai-nos celebrar com fervor estes dias de júbilo em honra de Cristo ressuscitado, para que nossa vida corresponda sempre aos mistérios que recordamos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (João 14,23-29)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
14,23 Disse Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada. 
24 Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou. 
25 Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. 
26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito. 
27 Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize! 
28 Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai, porque o Pai é maior do que eu. 
29 E disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem. 
– Palavra da Salvação.




        COMENTÁRIO

        A porta de entrada do texto é o versículo anterior, onde Judas, não o Iscariotes, pergunta a Jesus durante a Última Ceia, “por quê vais manifestar-te a nós e não ao mundo?” (v. 22). Jesus dá a resposta - o Pai vem morar no cristão que guarda a sua palavra, pois as suas palavras são as do Pai. O mundo (aqui entendido como o anti-reino, não o mundo físico) não ama a Deus. A presença de Deus só pode ser experimentada por aquele que O ama. Não é possível amar a Deus sem guardar a sua palavra.

Versículo 26 traz a segunda predição no Último Discurso da vinda do Paráclito (Jo 14, 15). Aqui se focaliza mais o seu papel de ensinamento, um ensinamento que clarificará o que Jesus ensinou. Ele vai fazer com que os discípulos “lembrem” tudo o que Jesus disse. Aqui “lembrar” significa a capacidade de entender o verdadeiro sentido das palavras e ações de Jesus, depois da Ressurreição (2, 22; 12, 16). O Espírito Santo, aqui descrito como Paráclito (no sistema judicial grego, o Paráclito era o advogado da defesa), não trará ensinamento que seja independente da revelação de Jesus. Ele vai preservar os discípulos de erro e guardá-los perto de Jesus.
Com esse dom, Jesus deixa com a sua comunidade a sua paz. Ele usa a palavra tradicional dos judeus para a paz, “Shalom”. É uma paz baseada na vinda do Espírito, que será atualizada na noite de Páscoa quando dirá: “A paz esteja com vocês! Recebam o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22). Enfatiza que não é a paz como o mundo a entende - muitas vezes simplesmente como a ausência de briga. Frequentemente a paz que o mundo dá é aquela falsa, que depende da força das armas para reprimir as legítimas aspirações do povo sofrido - como tantos países experimentaram, ou ainda experimentam, durante as ditaduras de direita e da esquerda. O “shalom” é tudo o que o Pai quer para o seu povo. Só existe quando reina o projeto de vida de Deus. Implica a satisfação de todas as necessidades básicas da pessoa humana, da libertação da humanidade do pecado e das suas consequências. O “shalom” dos discípulos não pode ser perturbado pelo fato da partida de Jesus, pois é através da volta do Filho para o Pai que o Shalom via se instalar.
O “shalom”, a verdadeira paz, é um dom de Deus. Mas, precisa da colaboração humana! Diante de tantas barbaridades hoje, de tanta violência no campo e na cidade, da exploração do latifúndio, da impunidade, da corrupção quase endêmica, qual deve ser a atitude do cristão? Se nós acreditamos no shalom, nunca podemos compactuar com sistemas repressivos ou elitistas que tiram da maioria (ou da minoria) os direitos básicos que pertencem a todos os filhos/as de Deus. Às vezes, este shalom convive ao lado do sofrimento e perseguição por causa do Reino; mas, quem experimenta na intimidade a presença da Trindade, também experimenta a verdade da frase do texto de hoje: “não fiquem perturbados, nem tenham medo” (v. 27), pois disse Jesus, “eu venci o mundo”. Por isso, devemos sempre “fazer a memória de Jesus” (aqui destaca-se o momento privilegiado da celebração eucarística) - da sua pessoa e do projeto d’Ele, para que tenhamos critérios certos para verificar a presença - ou ausência - do “shalom” na nossa sociedade e nos comprometermos com a criação do mundo mais justo que Deus quer.


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