Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C
Jo 14, 23-29
“Eu lhes dou a
minha paz”
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
14,23 Disse
Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós
viremos a ele e nele faremos nossa morada.
24 Aquele que
não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é
minha, mas sim do Pai que me enviou.
25 Disse-vos estas
coisas enquanto estou convosco.
26 Mas o Paráclito, o
Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e
vos recordará tudo o que vos tenho dito.
27 Deixo-vos a
paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o
vosso coração, nem se atemorize!
28 Ouvistes que eu vos
disse: Vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que
vou para junto do Pai, porque o Pai é maior do que eu.
29 E
disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que creiais quando
acontecerem.
– Palavra da Salvação.
Oração
do dia
Deus
todo-poderoso, dai-nos celebrar com fervor estes dias de júbilo em honra de
Cristo ressuscitado, para que nossa vida corresponda sempre aos mistérios que
recordamos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
EVANGELHO (João
14,23-29)
COMENTÁRIO
A
porta de entrada do texto é o versículo anterior, onde Judas, não o Iscariotes,
pergunta a Jesus durante a Última Ceia, “por quê vais manifestar-te a nós e não
ao mundo?” (v. 22). Jesus dá a resposta - o Pai vem morar no cristão que guarda
a sua palavra, pois as suas palavras são as do Pai. O mundo (aqui entendido
como o anti-reino, não o mundo físico) não ama a Deus. A presença de Deus só
pode ser experimentada por aquele que O ama. Não é possível amar a Deus sem
guardar a sua palavra.
Versículo
26 traz a segunda predição no Último Discurso da vinda do Paráclito (Jo 14,
15). Aqui se focaliza mais o seu papel de ensinamento, um ensinamento que
clarificará o que Jesus ensinou. Ele vai fazer com que os discípulos “lembrem”
tudo o que Jesus disse. Aqui “lembrar” significa a capacidade de entender o
verdadeiro sentido das palavras e ações de Jesus, depois da Ressurreição (2,
22; 12, 16). O Espírito Santo, aqui descrito como Paráclito (no sistema
judicial grego, o Paráclito era o advogado da defesa), não trará ensinamento
que seja independente da revelação de Jesus. Ele vai preservar os discípulos de
erro e guardá-los perto de Jesus.
Com
esse dom, Jesus deixa com a sua comunidade a sua paz. Ele usa a palavra
tradicional dos judeus para a paz, “Shalom”. É uma paz baseada na vinda
do Espírito, que será atualizada na noite de Páscoa quando dirá: “A paz esteja
com vocês! Recebam o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22). Enfatiza que não é a paz
como o mundo a entende - muitas vezes simplesmente como a ausência de briga.
Frequentemente a paz que o mundo dá é aquela falsa, que depende da força das
armas para reprimir as legítimas aspirações do povo sofrido - como tantos países
experimentaram, ou ainda experimentam, durante as ditaduras de direita e da
esquerda. O “shalom” é tudo o que o Pai quer para o seu povo. Só existe
quando reina o projeto de vida de Deus. Implica a satisfação de todas as
necessidades básicas da pessoa humana, da libertação da humanidade do pecado e
das suas consequências. O “shalom” dos discípulos não pode ser
perturbado pelo fato da partida de Jesus, pois é através da volta do Filho para
o Pai que o Shalom via se instalar.
O “shalom”, a verdadeira paz, é um dom de
Deus. Mas, precisa da colaboração humana! Diante de tantas barbaridades hoje,
de tanta violência no campo e na cidade, da exploração do latifúndio, da
impunidade, da corrupção quase endêmica, qual deve ser a atitude do cristão? Se
nós acreditamos no shalom, nunca podemos compactuar com sistemas
repressivos ou elitistas que tiram da maioria (ou da minoria) os direitos básicos
que pertencem a todos os filhos/as de Deus. Às vezes, este shalom
convive ao lado do sofrimento e perseguição por causa do Reino; mas, quem experimenta
na intimidade a presença da Trindade, também experimenta a verdade da frase do
texto de hoje: “não fiquem perturbados, nem tenham medo” (v. 27), pois disse
Jesus, “eu venci o mundo”. Por isso, devemos sempre “fazer a memória de Jesus”
(aqui destaca-se o momento privilegiado da celebração eucarística) - da sua
pessoa e do projeto d’Ele, para que tenhamos critérios certos para verificar a
presença - ou ausência - do “shalom” na nossa sociedade e nos
comprometermos com a criação do mundo mais justo que Deus quer.
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