Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C
Jo 13, 31-35
“Amem-se
uns aos outros”
Oração do dia
Ó Deus, Pai de bondade,
que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que crêem em Cristo
a liberdade verdadeira e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO
(João 13,31-35)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João. 13,31
Logo que Judas saiu, Jesus disse: “Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus
é glorificado nele.
32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará
em si mesmo, e o glorificará em breve.
33 Filhinhos meus, por um pouco
apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse aos judeus,
também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir.
34
Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim
também vós deveis amar-vos uns aos outros.
35 Nisto todos conhecerão
que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
- Palavra da Salvação.
-
Glória a Vós, Senhor!
COMENTÁRIO
Este texto
situa-se no contexto do Último Discurso de Jesus, na Ceia Pascal. Começa
logo após a saída de Judas para trair Jesus, depois que Jesus lhe disse “o que
você pretende fazer, faça-o logo” (Jo 13, 27). Com a licença oficial dada
ao agente de Satanás para iniciar o processo que iria matá-lo, Jesus começa o
processo da sua glorificação. A sua fidelidade ao projeto do Pai vai levá-lo à
Cruz, que, no Quarto Evangelho, não é um sinal de derrota, mas da vitória
última e permanente de Deus. Por isso, a morte de Jesus, aparente vitória do
mal, será a glorificação de Jesus, e n’Ele, do Pai.
O anúncio
da sua partida, para os judeus uma ameaça (v. 33), é para a comunidade dos seus
discípulos um momento de emoção e carinho. A sua última dádiva a eles é um novo
mandamento: “eu dou a vocês um novo mandamento: amem-se uns aos outros.
Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (v. 34).
O que há
de novo neste mandamento? O que diferencia a proposta de amor de Jesus e
dos seus seguidores de outras propostas já conhecidas? O mundo do tempo de
Jesus, tanto na sociedade pagã como judaica, conhecia propostas de amor mútuo.
O mandamento de Jesus é novo em primeiro lugar porque ele se impõe como
exigência essencial para entrar na comunidade “escatalógica”. Essa é a
comunidade que já experimenta a presença do Reino de Deus, mesmo que ainda
espere a sua plena realização, ou seja, uma comunidade que experimenta a
salvação já realizada em Jesus, enquanto ainda experimenta a sua situação
permanente de fraqueza. Também é novo, porque não se fundamenta nas leis sobre
o amor, da tradição judaica (p. ex. Lv 19, 18, ou os documentos do Qumrã), mas
na entrega de si, de Jesus. O modelo deste amor é o exemplo do próprio Jesus
“assim como eu vos amei!” E como Ele nos amou? Entregando-se até a morte,
para que todos pudessem “ter a vida e a vida plenamente” (Jo 10, 10).
Este amor não é sinônimo de simpatia ou sentimento de atração. Exige
humildade e a disposição para o serviço que leva a morrer pelos outros. Este
“morrer” normalmente não se expressa através de uma morte literal, mas morrendo
diariamente ao egoísmo e à busca do poder dominador, para que sejamos
servidores, especialmente dos mais humildes, ao exemplo do Mestre que “não veio
para ser servido, mas para servir” (Mc 10, 45).
Este amor
e tão fundamental para a comunidade dos discípulos de Jesus que deve se tornar
o seu sinal característico: “assim todos reconhecerão que vocês são meus
discípulos” (v. 35). Mais do que uma lista de doutrinas, mais do que
práticas litúrgicas ou rituais, embora essas tenham o seu lugar e a sua
importância, é o amor mútuo e concreto que deve distinguir os discípulos de
Jesus. Atos dos Apóstolos nos
lembra que “foi em Antioquia que os discípulos receberam, pela primeira vez, o
nome de “cristãos” (At 11, 26). Receberam uma nova designação, da parte
dos outros, porque a sua maneira de viver era marcadamente diferente das outras
comunidades religiosas da cidade – era marcada pelo amor mútuo. O Evangelho de
hoje nos convida para que honestamente nos examinemos a nós mesmos, para
verificar se este amor-serviço ainda é a marca característica de nós,
discípulos/as de Jesus, na nossa vida individual e comunitária!