Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUARTO DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C
Jo 10, 27-30
“O Pai e eu somos um”
Oração do
dia
Deus eterno
e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho
possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO
(João 10,27-30)
Proclamação do Evangelho de
Jesus Cristo segundo João - 10,27
Disse Jesus: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.
28 Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as
roubará de minha mão.
29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos;
e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai.
30 Eu e o Pai somos um”.
– Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
O texto de hoje situa-se no
contexto de uma polêmica nos arredores do Templo entre Jesus a as autoridades
judaicas, na ocasião da Festa da Dedicação do Templo. Nos versículos
anteriores, as autoridades desafiaram Jesus para que se declarasse abertamente
o Messias. Ele respondeu que já tinha mostrado isso muitas vezes, através das
suas obras, mas, que eles não queriam acreditar, pois não eram as suas ovelhas.
Assim, fica claro que as ovelhas
são os discípulos, pois o verdadeiro discípulo ouve a palavra do Senhor e o
segue. São conhecidos por Ele - e aqui cumpre lembrar que na linguagem bíblica,
a palavra “conhecer” tem conotações mais profundas do que no nosso uso comum.
Significa não tanto um saber intelectual, mas uma intimidade profunda do amor.
Assim, a bíblia muitas vezes até usa o verbo “conhecer” para significar relação
sexual. Assim, Maria questiona o anjo, pois Ela “não conhece” homem (Lc 1, 34).
O verdadeiro discípulo é aquele ou aquela que realmente tem um relacionamento
de intimidade com Deus e que põe em prática a sua palavra. E quem conhece
Jesus, conhece o Pai, pois “o Pai e eu somos um”, como diz Jesus no nosso
texto.
O versículo 28 afirma que Jesus dá
a vida eterna aos seus seguidores. Esse é um tema típico de João; e, outros
textos do Evangelho podem nos ajudar a aprofundá-lo. No Último Discurso, Jesus
explica em que consiste a vida eterna: “A vida eterna é esta: que eles conhecem
a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,
3). Mais uma vez, liga o conceito da vida eterna com o de “conhecer”. Mas, em
que consiste “conhecer” a Deus?
O profeta Jeremias pode nos
esclarecer. Em um trecho contundente, onde ele enfrenta o Rei Joaquim e o
condena por não pagar os salários dos seus operários na construção do seu
palácio, Jeremias diz o seguinte, referindo-se ao falecido rei justo Josias:
“Ele julgava com justiça a causa do pobre e do indigente; e tudo corria bem
para ele! Isso não é conhecer-me? - oráculo de Javé” (Jr 22, 16). Conhecer Deus
não é em primeiro lugar um exercício intelectual; mas, uma atitude de vida - a
prática da justiça, especialmente em favor do oprimido e fraco. Segundo João, então,
a vida eterna é o prêmio de quem pratica a justiça de Deus - proposta dos
discípulos de Jesus - e não dos que “sabem” muita coisa sobre Deus, mas que não
praticam a justiça - representados no texto de hoje pelas autoridades do
Templo.
O nosso texto nos traz motivo de
muita coragem, pois, afirma que ninguém vai arrancar o verdadeiro discípulo da
mão de Jesus (v. 28). Mas, também nos desafia para que verifiquemos se somos
realmente discípulos verdadeiros, se conhecemos Jesus e o Pai, isto é, se
praticamos a justiça do seu projeto. Pois, a prova de ser verdadeiro discípulo
está na prática das obras do Pai, e não no conhecimento teórico de religião.
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