Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA - Ano C
Jo 21, 1-19
“É o Senhor!”
Oração do dia
Ó Deus, que o vosso
povo sempre exulte pela sua renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora
com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO (Jo 21,1-19 ou 1-14)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo João. 21,1
Depois disso, tornou Jesus a manifestar-se aos seus discípulos junto ao lago
de Tiberíades. Manifestou-se deste modo:
2 Estavam juntos Simão Pedro,
Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná da Galiléia), os filhos de Zebedeu
e outros dois dos seus discípulos.
3 Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar”.
Responderam-lhe eles: “Também nós vamos contigo”. Partiram e entraram na barca.
Naquela noite, porém, nada apanharam.
4 Chegada a manhã, Jesus estava
na praia. Todavia, os discípulos não o reconheceram.
5 Perguntou-lhes
Jesus: “Amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?” “Não”, responderam-lhe.
6
Disse-lhes ele: “Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis”. Lançaram-na,
e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes.
7
Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: “É o Senhor!” Quando Simão
Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e
lançou-se às águas.
8 Os outros discípulos vieram na barca, arrastando
a rede dos peixes (pois não estavam longe da terra, senão cerca de duzentos côvados).
9
Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima delas, e pão.
10
Disse-lhes Jesus: “Trazei aqui alguns dos peixes que agora apanhastes”.
11
Subiu Simão Pedro e puxou a rede para a terra, cheia de cento e cinqüenta e três
peixes grandes. Apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.
12 Disse-lhes
Jesus: “Vinde, comei”. Nenhum dos discípulos ousou perguntar-lhe: “Quem és tu?”,
pois bem sabiam que era o Senhor.
13 Jesus aproximou-se, tomou o pão
e lhos deu, e do mesmo modo o peixe.
14 Era esta já a terceira vez que
Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado.
15
Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me
mais do que estes?” Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe
Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”.
16 Perguntou-lhe outra vez: “Simão,
filho de João, amas-me?” Respondeu-lhe: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe
Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”.
17 Perguntou-lhe pela terceira
vez: “Simão, filho de João, amas-me?” Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou
pela terceira vez: “Amas-me?”, e respondeu-lhe: “Senhor, sabes tudo, tu sabes que
te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas.
18 Em verdade,
em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas,
quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para
onde não queres”.
19 Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte
com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: “Segue-me!”
-
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Quase todas as traduções da Bíblia
intitulam o capítulo 21 de João como “Apêndice” ou “Epílogo”. Realmente, em uma
primeira edição, o Evangelho terminava no capítulo 20. Mas, devido a uma
situação nova nas comunidades, se tornou necessária a adição do último
capítulo. Essa situação era a fusão de dois tipos de comunidades cristãs - as
da tradição sinótica ou apostólica, e as da tradição da comunidade do Discípulo
Amado. Essa fusão aconteceu pelo fim do primeiro século e é simbolizada nos
versículos 15-18, onde Pedro recebe a primazia e a missão de pastor dos
discípulos. Mas, somente recebe depois de ter afirmado três vezes que amava
Jesus. A comunidade do Discípulo Amado aceita a função apostólica de Pedro, mas
insiste que antes de ser apóstolo é mais fundamental ser discípulo - ou seja,
amar Jesus.
A primeira parte do texto (vv.
1-14) tem grandes semelhanças com a história da “pesca milagrosa” de Lucas (Lc
5, 1-11); mas, o contexto pós-ressurrecional é diferente. Como sempre, no
Quarto Evangelho devemos prestar atenção aos símbolos - sejam eles pessoas,
eventos, ou números. Chama a atenção que - embora seja a terceira aparição de
Jesus - os discípulos não o reconhecem. Isso demonstra que a presença de Jesus
depois da Ressurreição, embora real, não é igual à sua presença durante a sua
vida terrestre. Quem O reconhece primeiro é o Discípulo Amado - pois só quem vê
com olhos de amor reconhece e vê além das aparências. Como foi o amor que o
levou a correr mais depressa ao túmulo do que Pedro em Cap. 20, é o amor que
faz com que ele seja o primeiro a reconhecer a presença de Jesus ressuscitado.
Ele é o Discípulo Amado e que ama. Pedro o será somente depois da sua profissão
de amor (vv. 15-17).
A pesca simboliza a missão dos
discípulos. Segundo muitos estudiosos (embora não haja unanimidade), o número
de 153 peixes se baseia no fato de que os zoólogos gregos da antiguidade
achavam que existiam no mundo 153 espécies de peixe. Então, o Evangelho estaria
dizendo que a Igreja (simbolizada pela rede) pode abraçar o universo inteiro -
todos os povos e culturas. É interessante que - diferente da história contada
em Lucas - a rede não se rompe! A diversidade de culturas, tradições e povos
constitui uma riqueza para a Igreja e não deve levar ao rompimento da unidade,
sem que se imponha a uniformidade (a palavra grega que João usa para “romper” é
“schisma”). Certamente essa visão
deve desafiar e questionar tantas tendências de centralização e rigidez que
existem na Igreja hoje!
O nó da questão está na entrega da
missão a Pedro. Ele deve ser o Bom Pastor das ovelhas e dos cordeiros - dos
membros das comunidades. As ovelhas, porém, não são dele - ele é apenas o
Pastor. As ovelhas pertencem ao Senhor! Aqui Pedro recebe esta grande
missão, que nos Sinóticos ele recebe na estrada de Cesaréia de Felipe. Mas,
mais importante do que a sua função é a sua vocação de discípulo - aquele que
ama e segue o Senhor. Só quem ama Jesus profundamente poderá pastorear os seus
seguidores. Se, no primeiro capítulo do Evangelho, Pedro veio a Jesus por
mediação do seu irmão André (Jo 1, 40-42), agora recebe o convite do próprio
Mestre: “Siga-me”, pois, no amor Ele fez a opção pelo discipulado.
Todos nós recebemos o mesmo
convite: “Siga-me”. Seja qual for a nossa função e missão na Igreja, elas só
terão sentido na medida em que realmente amamos Jesus - um amor que só é autêntico
se amamos os outros, na luta comum em favor da construção de um mundo onde
todos/as possam “ter vida e vida em abundância” (Jo 10, 10), pois “se Deus nos
amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4, 11).
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