Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
VIGÉSIMO NONO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 18,1-8
Oração do dia
Deus eterno e
todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor e vos servir de
todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
EVANGELHO (Lucas 18,1-8)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 18,1
Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem
jamais deixar de fazê-lo.
2 "Havia em certa cidade um juiz que
não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma.
3 Na mesma cidade
vivia também uma viúva que vinha com freqüência à sua presença para dizer-lhe:
'Faze-me justiça contra o meu adversário'.
4 Ele, porém, por muito
tempo não o quis. Por fim, refletiu consigo: 'Eu não temo a Deus nem respeito
os homens;
5 todavia, porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei
justiça, senão ela não cessará de me molestar".
6 Prosseguiu o
Senhor: "Ouvis o que diz este juiz injusto?"
7 Por acaso
não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e
noite? Porventura tardará em socorrê-los?
8 Digo-vos que em breve
lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a
terra?
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Embora possa parecer que o tema
deste trecho seja simplesmente a oração, na realidade Lucas o liga ao trecho
anterior (17, 22-37), que versava sobre a segunda vinda de Filho do Homem,
através da referência em v. 8: “Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que
vai encontrar a fé sobre a terra?” Então devemos entender o sentido original do
texto em referência à situação das comunidades do fim do primeiro século -
Jesus tardava a retornar, as perseguições estavam no horizonte, as comunidades
estavam sofrendo vários tipos de pressão, e a fé começava a vacilar. Por isso,
Lucas quer dar-lhes um ensinamento claro - Deus não vai abandoná-las; então,
devem ficar firmes, constantes na oração até que Ele venha.
O tema da oração cristã já foi
tratado no capítulo 11 de Lucas. Aqui volta à tona. O versículo 8 mostra que
não se refere à simples oração permanente, mas à uma atitude de oração baseada
na fé, até que Jesus volte.
Jesus tira uma mensagem de uma
situação que devia ter sido comum nos tempos idos (sem falar da atualidade!) -
a impotência de uma pobre mulher diante da prepotência de um juiz corrupto. Por
ser viúva em uma sociedade patriarcal e machista, ela encarna a impotência dos
pobres e marginalizados diante dos poderes do mundo.
Jesus dá uma lição clara - se até
um juiz injusto atende os pedidos insistentes da viúva, quanto mais Deus vai
atender os pedidos daqueles que Ele ama! Se a persistência da viúva alcança o
seu objetivo, quanto mais a oração persistente do discípulo, diante de um Deus
gracioso: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam
por Ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu lhes digo que Deus fará justiça para
eles, e bem depressa.” (v 7)
Aqui o texto nos faz lembrar um
dos temas centrais de toda a Bíblia - o grito do oprimido e a resposta de Deus.
É um tema constante, passando pelas páginas bíblicas desde Êxodo 3, 7-10.
Assim, a questão decisiva não é se Deus fará ou não justiça às comunidades
oprimidas - é óbvio que vai! A pergunta a ser respondida se formula no
versículo 8, que já foi citado: “O Filho do Homem, quando vier, será que vai
encontrar a fé sobre a terra?” O problema não é Deus, mas os discípulos - será
que os discípulos de Jesus ficarão fiéis a Ele durante a longa espera até a sua
segunda vinda? Para que tenham forças para vencer, então é necessário que eles
rezem constantemente e com fé. Essa mesma ideia se faz presente no fim da
Oração do Senhor: “Não nos deixes cair em tentação” (Lc 11, 4). Lá também,
Jesus ensinou que a comunidade deve pedir o dom da fé e da perseverança, para
não desanimar diante dos problemas da vida.
É muito atual
esse ensinamento de Jesus. Em uma época de tanto desânimo, tanta falta de
perspectivas, quando se chega a falar no “fim das utopias”, devemos sempre
rezar para que não sucumbamos à tentação do desânimo e do desespero, de não
acreditar na força do “grão da mostarda”, de desacreditar na presença do Reino.
As comunidade dos últimos décadas do primeiro século passavam por algo
semelhante. Assim, o autor de
Hebreus aconselha as suas comunidades vacilantes; “Para que vocês não se cansem
e não percam o ânimo, pensem atentamente em Jesus, que suportou contra si tão
grande hostilidade” (Hb 12,3). O
evangelho de hoje, aplicado a nós, existe para mostrar-nos: “a necessidade de
rezar sempre, sem nunca desistir” (v. 1). Cabe a nós praticá-lo!
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