Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
FESTA de SÃO PEDRO e SÃO PAULO
Mt 16, 13-19
“E vocês, quem dizem que eu sou?”
Oração do dia
Senhor nosso
Deus, concedei-nos os auxílios necessários à salvação pela intercessão dos
apóstolos são Pedro e são Paulo, pelos quais destes à vossa Igreja os primeiros
benefícios da fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
EVANGELHO
(Mateus 16,13-19)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. Naquele tempo, 16,13 chegando ao território
de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: "No dizer do
povo, quem é o Filho do Homem?"
14 Responderam: "Uns dizem
que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas".
15
Disse-lhes Jesus: "E vós quem dizeis que eu sou?"
16 Simão
Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!"
17
Jesus então lhe disse: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a
carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.
18
E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19 Eu te darei as
chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e
tudo o que desligares na terra será desligado nos céus".
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Aqui temos a versão mateana (Mateus) da profissão de fé de Pedro, que Marcos (Mc 8, 27-35) coloca como pivô de todo o seu evangelho. Este trecho levanta as duas perguntas fundamentais de todos os evangelhos: quem é Jesus? O que é ser discípulo d’Ele? São duas perguntas interligadas, pois a segunda resposta depende muito da primeira. A minha visão de Jesus determinará a maneira do meu seguimento d’Ele.
Como refletimos domingo passado
sobre a versão lucana desse texto (Lc 9, 18-24), remetemo-nos àquela reflexão e
aqui somente assinalaremos alguns poucos pontos a mais, já levando e conta o
que foi escrito para o 12º Domingo do Tempo Comum.
Depois de Jesus interrogar duas
vezes os discípulos, o texto de Mateus acrescenta vv. 17-19, pois quer destacar
o papel de Pedro (e, por conseguinte, dos líderes da sua própria comunidade),
na função de ligar e desligar da comunidade, que nos Evangelhos somente aqui e
em Cap. 18 é chamada de “Igreja”. “As chaves do Reino” não se refere aqui ao
poder de perdoar pecados, mas de integrar e desligar pessoas da comunidade dos
discípulos.
O fundamento, o alicerce, a pedra
fundamental dessa comunidade é o conteúdo da profissão de Pedro “Tu és o
Messias, o Filho de Deus vivo”. Mas continuam no ar as duas perguntas que são o
cerne do Evangelho: “Quem é Jesus?”, e “o que significa segui-Lo?” Pois os
termos que Pedro usa são ambíguos, porque cada um os interpreta conforme a sua
cabeça. Por isso, Jesus toma uma atitude, aparentemente estranha: “Ele ordenou
os discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias!”
Que coisa esquisita! Jesus proíbe
que se fale a verdade sobre ele! Como é que Ele espera angariar discípulos
deste jeito? O assunto merece mais atenção.
Realmente, Pedro acertou em termos
de teologia, de “ortodoxia”, conforme diríamos hoje. Ele usou o termo certo
para descrever Jesus. Mas, Jesus quer esclarecer o que significa ser “O Messias
de Deus”. Pois cada um pode entender este termo conforme os seus desejos. Jesus
quer deixar bem claro que ser “messias” para Ele é ser o “Servo de Javé”. É
vivenciar o projeto do Pai, que necessariamente vai levá-lo a um choque com as
autoridades políticas, religiosas, e econômicas, enfim, com a classe dominante
do seu tempo, e não o Messias nacionalista e triunfalista das expectativas de
então. Pedro teve que aprender essa exigência do discipulado, de uma maneira
lenta e dolorosa, passando até pela negação de Jesus na noite da sua prisão.
Aprendeu tão bem que chegou a dar a sua vida como mártir, também morrendo,
conforme a tradição, em uma cruz, no Circo de Nero em Roma, onde atualmente se
localiza a Basílica que traz o seu nome. Aprendeu a duras penas ser discípulo
de verdade e cumprir a missão que recebeu de Jesus na Última Ceia: “Eu rezei
por você, para que a sua fé não desfaleça. E você, quando tiver voltado para
mim, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22, 32). Aqui temos o essencial do
ministério petrino (Pedro), continuado no Papa - confirmar e fortalecer a fé
dos irmãos e irmãs. A Igreja sempre deve zelar que acréscimos históricos, mais adequados
a monarcas do que a discípulos, não escondem essa missão essencial.
Paulo, que durante os seus
primeiros anos da vida adulta, perseguia os discípulos, também teve a graça da
conversão, chegando a afirmar que não queria saber nada a não ser Jesus Cristo
e Jesus Cristo Crucificado! (1Cor 1, 2). Ele também pagou com a sua vida essa
decisão pelo discipulado.
No nosso
tempo, quando é moda apresentar um Jesus “light”, sem exigências, sem
paixão, sem Cruz, sem compromisso com a transformação social, o texto nos
desafia para que clarifiquemos em qual Jesus acreditamos. O Jesus quebra-galho,
que existe para resolver os meus problemas pessoais, tão propagado por setores
da mídia e por diversos movimentos e pregadores, ou o Jesus bíblico, o Servo de
Javé, que veio para dar a vida em favor de todos?