Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C
Lucas 7, 1-10
“Senhor, eu não sou digno...”
Oração do dia
Ó Deus, cuja providência
jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo e concedei-nos
tudo o que for útil. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
EVANGELHO
(Lucas 7,1-10)
Proclamação do Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas. 7,1 Tendo
Jesus concluído todos os seus discursos ao povo que o escutava, entrou em Cafarnaum.
2
Havia lá um centurião que tinha um servo a quem muito estimava e que estava à morte.
3
Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, rogando-lhe que
o viesse curar.
4 Aproximando-se eles de Jesus, rogavam-lhe encarecidamente:
“Ele bem merece que lhe faças este favor,
5 pois é amigo da nossa nação
e foi ele mesmo quem nos edificou uma sinagoga”.
6 Jesus então foi com
eles. E já não estava longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por amigos
seus: “Senhor, não te incomodes tanto assim, porque não sou digno de que entres
em minha casa;
7 por isso nem me achei digno de chegar-me a ti, mas dize
somente uma palavra e o meu servo será curado.
8 Pois também eu, simples
subalterno, tenho soldados às minhas ordens; e digo a um: ‘Vai ali!’ E ele vai;
e a outro: ‘Vem cá!’ E ele vem; e ao meu servo: ‘Faze isto!’ E ele o faz.
9
Ouvindo estas palavras, Jesus ficou admirado. E, voltando-se para o povo que o ia
seguindo, disse: “Em verdade vos digo: nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.
10
Voltando para a casa do centurião os que haviam sido enviados, encontraram o servo
curado.
– Palavra da Salvação!
COMENTÁRIO
A nossa leitura de hoje inspirou a frase tão conhecida que usamos na Missa antes da Comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa, mas diga uma só palavra e serei salvo” (v. 6). A profissão de fé em Jesus, feita por um desconhecido oficial romano, à beira do Mar da Galiléia, tornou-se a expressão da realidade de quem ousa aproximar-se da mesa eucarística. É na mesma hora um reconhecimento da nossa fraqueza e também da grandeza e gratuidade de Deus, que supera qualquer falha nossa.
A história situa-se bem dentro da
política lucana (Lucas) de nunca falar mal dos romanos (uma visão bem diferente
da política de João no Apocalipse). Lucas é um grego, e tem outra experiência
do Império Romano do que os oprimidos judeus da Palestina - uma experiência de
opressão e exploração que os levaria a duas guerras sangrentas e desastrosas,
de 66/72 d.C e de 132/135 d.C. Também, o autor quer respeitar os seus
destinatários - nas comunidades das cidades gregas do Império - muitos dos
quais ligados às instituições romanas e imperiais.
O oficial na história era pagão,
não judeu, mas pertencia ao grupo conhecido como “tementes a Deus”. Isso é,
simpatizantes do judaísmo, crentes no Deus único, mas não pertencentes
oficialmente à religião judaica. No Império Romano muitos pagãos estavam
cansados da idolatria e da imoralidade que marcavam a sociedade, e admiravam o
monoteísmo e a seriedade ética do judaísmo. Mas, se recusavam a assumir a
prática da circuncisão e outros ritos. O oficial em questão deve ser visto
nesse contexto.
Mas, ele, embora sendo pagão,
manifesta mais fé do que os próprios judeus - a ponto de causar a exclamação de
Jesus:
“Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a
multidão que o seguia, e disse: “Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel
encontrei tamanha fé!” (v. 9).
Com profundo respeito, ele nem
pede que Jesus entre na sua casa - pois tal ação deixaria Jesus ritualmente
impuro! Tem confiança absoluta em Jesus - basta a palavra d’Ele para que a cura
se concretize! Aqui temos mais um exemplo do interesse de Lucas em enfatizar o
poder da Palavra de Jesus (por exemplo, na versão lucana da cura da sogra do
Pedro, Jesus não toca nela, como em Marcos, mas só ameaça a febre, e com a sua
palavra, essa deixa a mulher - Lc 4, 39).
Um pagão serve de exemplo para a
multidão! Na boca de alguém considerado “impuro” se expressa a mais profunda
fé! Quantas vezes a mesma coisa acontece hoje - pessoas consideradas impuras,
ou tolas, ou ignorantes, dão lição de fé a nós, às vezes formados na teologia,
praticantes dos sacramentos, estudiosos da religião? A fé não depende do grau
do estudo - é uma atitude profunda que brota da intimidade com Deus.
É de notar também a prontidão com
que Jesus atende o pedido para ajudar o oficial. Embora esteja consciente que o
homem é estrangeiro e pagão, a compaixão faz com que Jesus não se amarra aos
limites costumeiros da prática religiosa do seu tempo, mas se prontifica até a
entrar na casa de um “impuro”, pois para Jesus, ninguém pode ser taxado de
impuro.
“Senhor, dê-nos a fé do oficial romano, e de muita gente
simples e humilde. Diga uma só palavra e a nossa falta de fé será curada!
Ajude-nos também a cultivar a compaixão que derruba as barreiras
artificialmente criadas por causa da etnia, cultura, religião ou condição de
vida.”
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