Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
SANTÍSSIMA
TRINDADE - ANO C
Jo 16, 12-15
“O Espírito não
falará em seu próprio nome”
Oração do dia
Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da Verdade
e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que,
professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a
Unidade onipotente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Evangelho (João 16,12-15)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
16,12 Disse Jesus a seus discípulos: “Muitas coisas ainda tenho
a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora.
13 Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade,
ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que
ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão.
14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo
anunciará.
15 Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de
receber do que é meu, e vo-lo anunciará”.
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Hoje
celebramos o mistério insondável de Deus, a Santíssima Trindade. Durante os
primeiros séculos da sua existência, a Igreja tinha dificuldade para expressar
em palavras o inexprimível - a natureza do Deus em que acreditamos. Chegou à
expressão belíssima do Credo Niceno-Constantinopolitano, pouco usado nas
celebrações de hoje, onde celebra o Pai “criador de todas as coisas”, o Filho, “Deus
de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado’, e
o Espírito que “dá a vida, e procede do Pai e do Filho”. Mas, mesmo essas
expressões tão profundas não conseguem explicar a Trindade, pois, se Deus fosse
compreensível à mente humana, não seria Deus.
O
Quarto Evangelho nos traz formulações muito bonitas referentes à Trindade, com
destaque especial para a ação do Espírito Santo, especialmente no último
Discurso de Jesus. Nesses capítulos (13-17), o Espírito é apresentado como o
Paráclito, uma palavra grega que significa, em nossa linguagem, o Advogado da
Defesa. Em diversos textos João expressa a função do Espírito dentro da
comunidade pós-ressurrecional. No capítulo 16, de onde se tira o texto de hoje,
existe um trecho trinitário: vv. 13-15 se referem ao Espírito; vv. 16-22, a
Jesus; vv. 23-27, ao Pai.
No
texto que refletimos, a função do Espírito de ensinar é enfatizada. Como em
Cap. 14, em um texto paralelo, esse ensinamento não trará nada de novo. Jesus já
recebeu tudo do Pai e o Paráclito recebe tudo de Jesus. Mas, o ensinamento d’Ele
vai fazer com que os discípulos compreendam melhor o que significava o
ensinamento que receberam de Jesus. Vai fazer com que eles “recordem” as suas
palavras, e assim consigam colocá-las em prática. O termo “verdade” que se usa
neste texto tem o mesmo sentido que tem em outros textos do Quarto Evangelho,
isso é, a fé em Jesus como a revelação de Deus e quem fala as palavras de Deus
(Jo 3, 20.33; 8, 40.47).
Dentro
das limitações da linguagem humana, tentamos expressar o mistério da Trindade
como “três pessoas em uma única natureza”. Mais importante do que encontrar fórmulas
abstratas para expressar o que no fundo é inexprimível, é descobrir o que a
doutrina da Trindade possa nos ensinar para a nossa vida cristã. Talvez, o
livro de Gênesis nos ajude. Lá se diz que Deus “criou o homem à sua imagem; à
imagem de Deus Ele o criou; e os criou homem e mulher” (Gn 1, 28). Se estamos
criados na imagem e semelhança de Deus, é de um Deus que é Trindade, que é
comunidade perfeita na diversidade. Assim, só podemos ser pessoas realizadas na
medida em que vivemos comunitariamente. Quem vive só para si é destinado à
frustração e infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo é
a negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos, enquanto fomos
criados na imagem de um Deus que é o contrário do individualismo, pois é
Trindade.
No mundo pós-moderno, onde o individualismo social,
econômico e religioso é tido como critério fundamental da vida, a doutrina da
Trindade nos desafia para que vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma
sociedade de partilha, solidariedade e justiça, no respeito do diferente do
outro, pois fomos criados na imagem e semelhança deste Deus que é amor e comunhão.
A festa de hoje não é de um mistério matemático - como pode ter um em três -
mas do mistério do amor de Deus, que nos criou para que vivêssemos
comunitariamente na Sua imagem e semelhança.
Salmo 8
R. Ó Senhor nosso Deus, como é grande
vosso nome por todo o universo!
Contemplando estes céus que plasmastes
e formastes com dedos de artista;
vendo a lua e estrelas brilhantes,
perguntamos: “Senhor, que é o homem,
para dele assim vos lembrardes
e o tratardes com tanto carinho?”
R. Ó Senhor nosso Deus, como é grande
vosso nome por todo o universo!
Pouco abaixo de Deus o fizestes,
coroado-o de glória e esplendor;
vós lhe destes poder sobre tudo,
vossas obras aos pés lhe pusestes.
R. Ó Senhor nosso Deus, como é grande
vosso nome por todo o universo!
As ovelhas, os bois, os rebanhos,
todo o gado e as feras da mata;
passarinhos e peixes dos mares,
todo ser que se move nas águas.
R. Ó Senhor nosso Deus, como é grande
vosso nome por todo o universo!
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