sábado, 9 de novembro de 2013

32º DOMINGO COMUM - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 20,27-38
“Deus não é Deus de mortos, mas de vivos”


Oração do dia
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


EVANGELHO (Lucas 20,27-38)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. Naquele tempo, 20,27 alguns saduceus - que negam a ressurreição - aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: 
28 "Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se alguém morrer e deixar mulher, mas não deixar filhos, case-se com ela o irmão dele, e dê descendência a seu irmão. 
29 Ora, havia sete irmãos, o primeiro dos quais tomou uma mulher, mas morreu sem filhos. 
30 Casou-se com ela o segundo, mas também ele morreu sem filhos. 
31 Casou-se depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete, que morreram sem deixar filhos. 
32 Por fim, morreu também a mulher. 
33 Na ressurreição, de qual deles será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher". 
34 Jesus respondeu: "Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento, 
35 mas os que serão julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos não terão mulher nem marido. 
36 Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, porque são ressuscitados. 
37 Por outra parte, que os mortos hão de ressuscitar é o que Moisés revelou na passagem da sarça ardente, chamando ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó . 
38 Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele". 
- Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO
Mais uma vez, a nossa leitura exige que a gente tenha alguma noção dos partidos político-religiosos do tempo de Jesus. Depois de termos encontrado “os Fariseus”, “os Escribas”, e “os Herodianos”, agora entram em cena “os Saduceus”! Para entender a controvérsia no texto, é imprescindível conhecer algo sobre este partido.
Não é absolutamente claro qual é a origem do nome “Saduceu”. Alguns estudiosos acham que vem do nome do Sumo Sacerdote de Davi, “Sadoc”; enquanto outros, diante do fato de que muitos dos seus membros eram leigos, acham mais provável que o nome venha de uma palavra hebraica que significa “justo”. Eles se consideravam “os justos” (uma ilusão também partilhada por outros partidos da época, como os fariseus e os essênios!). A primeira menção deles é do tempo dos Macabeus (cerca 130 AC.), quando fizeram parte de uma delegação judaica que foi a Roma.
Podemos dizer que eles representavam a “elite conservadora” do judaísmo do tempo de Jesus. Defendiam os interesses da classe alta de Jerusalém, os grandes comerciantes e donos de terras, e dos “donos” do Templo - uma fonte de muito lucro. No tempo dos Romanos, praticamente todos os Sumos Sacerdotes vieram deste grupo. Dominavam o Sinédrio, ou Grande Conselho (realmente seriam eles os responsáveis pela morte de Jesus), colaboravam com os Romanos, desprezavam o povo simples - ao contrário dos fariseus e escribas, não tinham muita influência com ele - e mantinham uma interpretação conservadora da Escritura, não admitindo a tradição oral e limitando-se ao Pentateuco, ou “Torá”. Não aceitavam a doutrina da ressurreição dos mortos, nem a dos anjos, e eram opositores dos fariseus.
A partir da lei do casamento da Lei do levirato do Livro de Deuteronômio, (quando o irmão de quem falecesse sem deixar filho deveria casar com a viúva e gerar filho no nome do falecido), eles propõem para Jesus um argumento - que nos poderia parecer absurdo - para contestar a doutrina tardia da ressurreição dos mortos. Vale a pena lembrar-nos do que diz Dt 25, 5-6: “Quando dois irmãos moram juntos e um deles morre sem deixar filhos, a viúva não sairá da casa para casar-se com nenhum estranho; seu cunhado se casará com ela, cumprindo o dever de cunhado. O primogênito que nascer receberá o nome do irmão morto, para que o nome deste não se apague em Israel”. Certamente uma lei que para nós parece no mínimo estranha! Mas na época antes da fé na ressurreição, era de suma importância para Israel que o nome de um homem se propagasse nos seus filhos. Por isso, era dever do irmão sobrevivente suscitar um filho para o falecido, para que este não morresse na memória do seu povo. Naquele tempo, a família estendida, ou clã, era mais importante do que a família nuclear de hoje.
Jesus ataca a premissa básica dos Saduceus - para eles a vida vindoura é simplesmente uma continuação desta vida, e por isso precisa da procriação humana. Em lugar de fazer um argumento casuístico, que não levaria a nada, Jesus apresenta o ponto central da Escritura - que Deus é o Deus da vida! Não criou ninguém para a morte, mas para a vida eterna com Ele!
O argumento dos saduceus dificilmente encontraria eco entre nós hoje. Mas, como eles naquela ocasião, quantas vezes nós nos preocupamos mais com o que possa acontecer depois a morte, do que com a vida aqui e agora.
Quanta preocupação hoje com o fim do mundo, com as almas e espíritos, com assombração, com supostas visões e revelações - e tão pouca com os problemas práticos que trazem tanto sofrimento aos nossos irmãos e irmãs. Jesus não permite que nós gastemos tempo e energias com discussões inúteis sobre “como é” a vida além-morte. Chama a nossa atenção para a vida real - pois é aqui que devemos concretizar o seguimento d’Ele, que veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10).
Pode parecer que a preocupação dos saduceus era ridícula – mas, não era mais ridícula do que a dos cristãos que gastam as suas forças em discussões fúteis sobre a vida do além, que ninguém, - segundo Paulo - é capaz de imaginar, enquanto ignoram o Cristo presente nos sofredores ao seu lado. A fé de Jesus não permite alienação, “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos” (v. 38), e nos desafia para que vivamos esta fé na luta para que o mundo sonhado por Jesus se torne realidade.


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