sábado, 2 de novembro de 2013

Festa de Todos os Santos


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


Festa de Todos os Santos - Ano C
Mt 5, 1-12ª
“Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa nos céus”

Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, que nos dais celebrar numa só festa os méritos de todos os santos, concedei-nos, por intercessores tão numerosos, a plenitude da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Mateus 5,1-12)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus - 5,1 Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. 
2 Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: 
3 "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! 
4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! 
5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! 
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! 
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! 
8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! 
9 Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! 
10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! 
11 Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. 
12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
- Palavra da Salvação.

COMENTÁRIO


Esses primeiros versículos de Cap. 5 servem ao mesmo tempo como introdução e como resumo do Sermão da Montanha.  Nos apresentam um retrato das qualidades do verdadeiro discípulo(a), daquele(a) que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do Reino de Deus.  Basta uma leitura superficial para ver que a proposta de Jesus está na contramão da proposta da sociedade vigente – tanta a do tempo de Jesus, como de hoje.  Embora de uma forma menos contundente do que Lucas (Lc 6, 20-26), o texto de Mateus deixa claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver.
Um primeiro elemento que chama a atenção é o fato de que a primeira e a última bem-aventurança estão com o verbo no tempo presente – o Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça – na verdade, as mesmas pessoas, pois os que buscam a justiça verdadeira são “pobres em espírito”.  Eles já vivem a dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas quem luta pela justiça será perseguido – e quem não se empenha nessa luta jamais poderá ser “pobre em espírito”.
As outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito.  É aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros, causados por uma sociedade materialista e consumista.  Podemos lembrar os sentimentos expressados pelo Papa Francisco na ocasião recente do naufrágio do barco carregando 500 refugiados da África, perto da Ilha de Lampedusa.  Ele falou em Assis que sentiu uma sensação de “vergonha” diante da situação que não era só deste grupo, mas de milhões dos nossos irmãos e irmãs.
 É manso, não no sentido de passivo, mas porque não é movido pelo ódio e violência que marcam a ganância e a truculência dos que dominam, “amansando” os pobres e fracos.
Tem fome da justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma legitimação oficial da exploração e privilégio.  Tem coração compassivo, como o próprio Pai do Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores.  Promove a paz, não “a paz que o mundo dá” (Jo 14, 27), mas o “shalom”, a paz que nasce do projeto de Deus, quando existe a justiça do Reino.
Mas Jesus deixa clara a conseqüência de assumir esse projeto de vida – a perseguição!  Pois um sistema baseado em valores anti-evangélicos não pode agüentar quem a contesta e questiona, algo que a história dos mártires do nosso continente testemunha muita bem.  Qualquer igreja cristã que é bem aceita e elogiada pelo sistema hegemônico precisa se questionar sobre a sua fidelidade à vivência das bem-aventuranças do Sermão da Montanha. O martírio (= testemunho, na língua grega) é pedra-de-toque dessa fidelidade.

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