quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

5º DOMINGO DA QUARESMA - Ano C



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD



QUINTO DOMINGO DA QUARESMA - Ano C
Jo 8, 1-11
"Quem não tiver pecado, atire nela a primeira pedra"



Oração do dia
 

Ó Deus, na vossa misericórdia, dirigi os nossos corações, pois, sem o vosso auxílio, não vos podemos agradar. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. 

LEITURA DO EVANGELHO

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
— Glória a vós, Senhor. Naquele tempo, 8,1 Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras. 
2 Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar. 
3 Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 
4 Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: "Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. 
5 Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?" 
6 Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. 
7 Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra". 
8 Inclinando-se novamente, escrevia na terra. 
9 A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele. 
10 Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: "Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?" 
11 Respondeu ela: "Ninguém, Senhor". Disse-lhe então Jesus: "Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar". 
- Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO
Essa história parece muito mais semelhante aos temas do Evangelho de Lucas do que do o Evangelho do Discípulo Amado. De fato, não aparece nos manuscritos mais antigos de Lucas, e só aparece pela primeira vez em versões do século terceiro. Por isso, a maioria dos estudiosos acham que originalmente esta história circulava nas comunidades como uma tradição independente. O copista que a inseriu talvez fizesse por achar que ilustrasse duas frases do Quarto Evangelho: “Eu julgo a ninguém” (Jo 8, 15) e “Quem de vocês pode me acusar de pecado?” (Jo 8, 46). O tema do perdão de uma mulher pecadora é tipicamente lucano (Lucas). Alguns manuscritos situam esse texto no Evangelho de Lucas durante as controvérsias da Semana Santa - o que parece ser um contexto mais adequado.
O problema apresentado a Jesus pelos fariseus é semelhante àquele do imposto em Lc 21, 27-38. A Lei judaica prescreveu a pena de morte para uma mulher casada pega em adultério (Dt 22, 23-24). Mas, segundo João 18, 31, os romanos tinham retirado dos judeus o direito de condenar alguém à morte. Portanto, se Jesus dissesse que ela deveria ser apedrejada, ele contrariaria a lei civil dos romanos; se ele negasse esta pena, estaria contra a lei religiosa mosaica. É uma cilada semelhante ao dilema sobre o imposto a César, ou a questão sobre o divórcio em Mt 19, 3-9. Que os seus interlocutores não se interessam pela Lei se manifesta pelo fato de só acusarem a mulher e não o seu parceiro! Uma atitude machista tão comum ainda na nossa sociedade.
Não se esclarece o que foi que Jesus escreveu no chão. Alguns autores veem uma referência a uma frase em Jeremias: “Aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira, porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 17, 13). Assim, seria uma indicação que os verdadeiros culpados são aqueles que se davam o direito de condenar a mulher.
Perguntando da mulher se os seus acusadores não a tinham condenado, Jesus deixa claro que Ele não se identifica com eles. Ele não veio para condenar, mas para salvar! Por isso, a mulher está livre para ir - mas não para pecar de novo!
O texto ilustra mais uma vez o recado central que vimos no Evangelho do último Domingo - Deus é um Deus de misericórdia, e não de condenação. Ele condena o pecado, o mal, mas não a pessoa. Como em Lucas 15, 1-2, também no texto de hoje, as pessoas que mais deviam se preocupar em manifestar o rosto misericordioso do Pai, se preocupavam mais em condenar, a partir de um legalismo que desconhecia a misericórdia. Jesus, do outro lado, valoriza a Lei (pede que a mulher não continue a pecar), mas tem compaixão diante da fraqueza humana. Aliás, é notável que, nos Evangelhos, Jesus nunca é duro ou rígido com as pessoas que manifestam na sua vida sinais da fraqueza humana, mas é contundente com os que não têm compaixão nem misericórdia, e que escondem o verdadeiro rosto de Deus através do seu legalismo e auto-suficiência.
Quantas vezes nas Igrejas - até hoje - se manifesta muito mais a dureza de uma mentalidade legalista do que a compaixão de um Deus que é “rico em misericórdia?” Neste tempo quaresmal, preocupemo-nos em sermos manifestação do Deus verdadeiro, misericordioso e compassivo, a exemplo de Jesus, que soube distinguir bem entre o pecado e o pecador. “Nem eu te condeno, vá e não peques mais!” Lembremos das palavras sábias e profundas do Documento da Aparecida no seu número 147:
“O/A discípulo/a-missionário/a há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para os pobres e pecadores”. Jesus nos dá o exemplo no texto de hoje.




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