Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUINTO DOMINGO DA QUARESMA - Ano C
Jo 8, 1-11
"Quem não tiver pecado, atire nela a primeira pedra"
Oração do dia
Ó Deus, na vossa misericórdia, dirigi os nossos corações, pois, sem o vosso auxílio, não vos podemos agradar. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
LEITURA DO EVANGELHO
COMENTÁRIO
Essa história parece muito mais
semelhante aos temas do Evangelho de Lucas do que do o Evangelho do Discípulo
Amado. De fato, não aparece nos manuscritos mais antigos de Lucas, e só aparece
pela primeira vez em versões do século terceiro. Por isso, a maioria dos
estudiosos acham que originalmente esta história circulava nas comunidades como
uma tradição independente. O copista que a inseriu talvez fizesse por achar que
ilustrasse duas frases do Quarto Evangelho: “Eu julgo a ninguém” (Jo 8, 15) e
“Quem de vocês pode me acusar de pecado?” (Jo 8, 46). O tema do perdão de uma
mulher pecadora é tipicamente lucano (Lucas). Alguns manuscritos situam esse
texto no Evangelho de Lucas durante as controvérsias da Semana Santa - o que
parece ser um contexto mais adequado.
O problema apresentado a Jesus
pelos fariseus é semelhante àquele do imposto em Lc 21, 27-38. A Lei judaica
prescreveu a pena de morte para uma mulher casada pega em adultério (Dt 22,
23-24). Mas, segundo João 18, 31, os romanos tinham retirado dos judeus o
direito de condenar alguém à morte. Portanto, se Jesus dissesse que ela deveria
ser apedrejada, ele contrariaria a lei civil dos romanos; se ele negasse esta
pena, estaria contra a lei religiosa mosaica. É uma cilada semelhante ao dilema
sobre o imposto a César, ou a questão sobre o divórcio em Mt 19, 3-9. Que os
seus interlocutores não se interessam pela Lei se manifesta pelo fato de só
acusarem a mulher e não o seu parceiro! Uma atitude machista tão comum ainda na
nossa sociedade.
Não se esclarece o que foi que
Jesus escreveu no chão. Alguns autores veem uma referência a uma frase em
Jeremias: “Aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira,
porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 17, 13). Assim, seria uma
indicação que os verdadeiros culpados são aqueles que se davam o direito de
condenar a mulher.
Perguntando da mulher se os seus
acusadores não a tinham condenado, Jesus deixa claro que Ele não se identifica
com eles. Ele não veio para condenar, mas para salvar! Por isso, a mulher está
livre para ir - mas não para pecar de novo!
O texto ilustra mais uma vez o
recado central que vimos no Evangelho do último Domingo - Deus é um Deus de
misericórdia, e não de condenação. Ele condena o pecado, o mal, mas não a
pessoa. Como em Lucas 15, 1-2, também no texto de hoje, as pessoas que mais
deviam se preocupar em manifestar o rosto misericordioso do Pai, se preocupavam
mais em condenar, a partir de um legalismo que desconhecia a misericórdia.
Jesus, do outro lado, valoriza a Lei (pede que a mulher não continue a pecar),
mas tem compaixão diante da fraqueza humana. Aliás, é notável que, nos
Evangelhos, Jesus nunca é duro ou rígido com as pessoas que manifestam na sua
vida sinais da fraqueza humana, mas é contundente com os que não têm compaixão
nem misericórdia, e que escondem o verdadeiro rosto de Deus através do seu
legalismo e auto-suficiência.
Quantas vezes nas Igrejas - até
hoje - se manifesta muito mais a dureza de uma mentalidade legalista do que a
compaixão de um Deus que é “rico em misericórdia?” Neste tempo quaresmal,
preocupemo-nos em sermos manifestação do Deus verdadeiro, misericordioso e
compassivo, a exemplo de Jesus, que soube distinguir bem entre o pecado e o
pecador. “Nem eu te condeno, vá e não peques mais!” Lembremos das palavras
sábias e profundas do Documento da Aparecida no seu
número 147:
“O/A discípulo/a-missionário/a há
de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai,
especialmente para os pobres e pecadores”. Jesus nos dá o exemplo no texto de
hoje.
Muito bom!
ResponderExcluir