Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DOMINGO DE RAMOS - Ano C
Lc 19, 29-40
“Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”
ORAÇÃO DO
DIA
Deus eterno e
todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o
nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o
ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por N.S.J.C....
* O Evangelho é o da procissão.
PROCLAMAÇÃO
DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO SEGUNDO LUCAS - Naquele tempo, Jesus caminhava à
frente dos discípulos, subindo para Jerusalém. Quando se aproximou de Betfagé
e Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois de seus
discípulos, dizendo: “Ide ao povoado ali na frente. Logo na entrada encontrareis
um jumentinho amarrado, que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui. Se
alguém, por acaso, vos perguntar: ‘Por que desamarrais o jumentinho?’,
respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’”. Os enviados partiram e
encontraram tudo exatamente como Jesus lhes havia dito. Quando desamarravam o
jumentinho, os donos perguntaram: “Por que estais desamarrando o jumentinho?”
Eles responderam: “O Senhor precisa dele”. E levaram o jumentinho a Jesus.
Então puseram seus mantos sobre o animal e ajudaram Jesus a montar. E enquanto
Jesus passava, o povo ia estendendo suas roupas no caminho. Quando chegou perto
da descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos, aos gritos e
cheia de alegria, começou a louvar a Deus por todos os milagres que tinha
visto. Todos gritavam: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e
glória nas alturas!” Do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus:
“Mestre, repreende teus discípulos! Jesus, porém, respondeu: “Eu vos declaro:
se eles se calarem, as pedras gritarão”. Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Quase não há comunidade católica
no Brasil que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em
Jerusalém. São organizadas procissões, o povo abana ramos, se celebram
encenações do evento. Pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos
comuns, hoje fazem questão de não perder a procissão. Porém, para não
reduzirmos a comemoração a mero folclore, é importante estudar o que
significava este evento para Jesus, e para o evangelista.
Dificulta o nosso entendimento da
passagem a nossa pouca familiaridade com o Antigo Testamento. Cumpre relembrar
um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de
alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e
vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma
jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar,
do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito
importante na espiritualidade do grupo conhecido como “os pobres de Javé”, que
esperavam a chegada do Messias libertador. Nesse grupo encontravam-se Maria e
José, e os discípulos de Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi
criado. Zacarias traçava as características do messias - seria um rei, “justo e
pobre”, não de guerra, mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da
sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde os
poderosos e violentos oprimiam os pobres e pacíficos! Seria uma sociedade
onde, entre outros elementos, a economia estaria a serviço da vida! Um rei
jamais entraria numa cidade montado em um jumento - o animal do pobre camponês,
mas num cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma
releitura de Zacarias, e se identificou com o rei pobre, da paz, da esperança
dos pobres e oprimidos!
Por isso, muitas vezes perdemos
totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como
se fosse a entrada de um Governante dos nossos tempos - com pompa, imponência,
e demonstração de poder e força. Na verdade, houve uma procissão assim em
Jerusalém no mesmo dia da entrada de Jesus – a entrada do Procurador romano,
Pôncio Pilatos, chegando com toda a pompa de Cesaréia Marítima, com uns cinco
mil soldados, para ostentar o poder repressor do Império. À tarde, pelo porta
oriental, Jesus fez o contrário! Entrou como o servo de Javé, na simplicidade
que é própria de Deus e dos seus enviados. Chamamos o evento da “entrada
triunfal de Jesus” - e realmente foi, mas como triunfo do Deus que se encarnou
entre nós como o Servo Sofredor! Nada mais longe do sentido original desse
evento do que manifestações de poderio e pompa, mesmo - ou especialmente -
quando feitas em nome da Igreja e do Evangelho de Jesus! O poder e a pompa
seduzem – devemos ficar eternamente gratos ao Papa Bento XVI pelo desapego que
ele demonstrou em renunciar, pelo bem da Igreja. Uma atitude digna de um
verdadeiro discípulo do Mestre do Domingo de Ramos!
O texto convida a todos nós a
revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus - mas, será que é o Jesus real, o
Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da
profecia de Zacarias? Ou inventamos um outro Jesus - poderoso nos moldes da
nossa sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende esses
termos? Essa semana foi o ponto culminante de toda a vida e missão de Jesus -
das suas opções concretas em favor dos oprimidos, do seu desafio à religião
oficial que escondia o verdadeiro rosto de Deus, das consequências políticas e
econômicas da sua proposta de uma sociedade justa e igualitária, manifestação
concreta da chegada do Reino de Deus. Tudo isso levou os poderosos, romanos e
judeus, a tramarem a sua morte. É importante lembrar que a paixão e morte de
Jesus foram consequência da sua vida - é impossível entender o que significa a
Semana Santa sem ligá-la com o resto da vida de Jesus e com a sua proposta para
a sociedade e para os seus seguidores. Jesus não morreu - foi morto porque
incomodava, como continua a incomodar ainda hoje os que continuam com o sistema
opressor que é a expressão do anti-Reino, mesmo quando disfarçado com discurso
religioso, como se fazia no Templo.
Nos adverte um canto usado nas
celebrações de hoje: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E
por isso não creram n’Ele e mataram o salvador!” Realmente acreditamos no rei
dos pobres e oprimidos, ou só fazemos um folclore no Dia de Ramos, bonito, mas
totalmente desvinculado da mensagem verídica e profunda do profeta Zacarias e
do evangelho de hoje?
dicas para ofertório
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