quarta-feira, 28 de agosto de 2013

24º DOMINGO COMUM - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD


VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 15,1-32
“A Ovelha, A Moeda e O Filho, Perdidos e Achados”




Oração do dia
Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Lucas 15,1-32)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. Naquele tempo, 15,1 Os publicanos e os pecadores aproximavam-se de Jesus para ouvi-lo. 
2 Os fariseus e os escribas murmuravam: "Este homem recebe e come com pessoas de má vida!" 
3 Então lhes propôs a seguinte parábola: 
4 "Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 
5 E depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, 
6 e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido'. 
7 Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. 
8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma delas, não acende a lâmpada, varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la? 
9 E tendo-a encontrado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, achei a dracma que tinha perdido. 
10 Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa". 
11 Disse também: "Um homem tinha dois filhos. 
12 O mais moço disse a seu pai: 'Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca'. O pai então repartiu entre eles os haveres. 
13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. 
14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. 
15 Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. 
16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 
17 Entrou então em si e refletiu: 'Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância e eu, aqui, estou a morrer de fome!' 
18 Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: 'Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; 
19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 
20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 
21 O filho lhe disse, então: 'Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho'. 
22 Mas o pai falou aos servos: 'Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. 
23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. 
24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado'. E começaram a festa. 
25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 
26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. 
27 Ele lhe explicou: 'Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo'. 
28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. 
29 Ele, então, respondeu ao pai: 'Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. 
30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!' 
31 Explicou-lhe o pai: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 
32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado'".
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase na misericórdia de Deus. Se fosse para classificar numa só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos sem hesitação assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo saliente esta convicção tanto como o capítulo 15, que hoje lemos na sua totalidade.

As três parábolas aqui relatadas são entre as mais conhecidas da Bíblia - geralmente chamadas (com razão ou não) “A Ovelha Perdida”, “A Moeda Perdida” e “O Filho Pródigo”. Talvez devamos ter um pouco de cuidado com esses títulos - já consagrados pelo uso - pois já indicam uma possível interpretação do ponto central de cada parábola - não necessariamente a mais adequada!
De fato, cada parábola poderia ficar independente, e ter a sua interpretação fora do contexto da sua colocação em Lucas. Mas para que sejamos fiéis à intenção do evangelista, devemos interpretá-las dentro do seu esquema teológico e literário. A Parábola da Ovelha também existe em Mateus, mas dentro de um outro contexto e com outros destinatários, tornando-se a parábola da “Ovelha Desgarrada”. Em Mt 18,12-14, a parábola é dirigida aos discípulos, enquanto em Lc é contada para os fariseus e escribas. Como os destinatários são diferentes, também a sua mensagem é diferente nos dois contextos.
Para entender melhor o que Lucas quer ensinar, devemos dar muita atenção aos primeiros dois versículos do capítulo 15. Pois, estes versículos nos fornecem o motivo pelo qual Jesus contou as parábolas, e, por conseguinte, uma chave valiosa de interpretação. Funcionam como um gancho sobre o qual se pendura o resto do capítulo: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas, os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!” (vv.1-2). Depois, vem a chave de interpretação: “Então Jesus contou lhes esta parábola” (v . 3). Ou seja, Jesus contou estas parábolas porque os fariseus e doutores da Lei o criticavam por associar-se com gente de má fama! Então a chave de interpretação é a atitude dos fariseus e doutores, contestada pelo ensinamento de Jesus.
Neste sentido podemos interpretar a parábola conhecida como a parábola da “Ovelha Perdida”. Jesus, diante da intransigência dos fariseus, pergunta: “Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?” (v. 4). A resposta razoável é “não” - nenhum pastor, com a cabeça no lugar, deixaria noventa e nove ovelhas à deriva para tentar encontrar uma ovelha perdida. Seria loucura! Mas, exatamente aqui está o sentido da parábola - Deus faz loucuras por amor a nós! Ele é capaz de fazer o que nenhuma pessoa humana faria - ir atrás da ovelha perdida, custe o que custar, até achar e trazer de volta! Aqui a parábola funciona não por comparação, mas por contraste - Deus é o oposto dos homens, que só agem através de decisões calculistas. Faz loucura - e a loucura do amor consegue o que a razão jamais conseguiria, a volta da ovelha perdida! Assim, se faz contraste entre a atitude de Deus e a atitude dos fariseus e doutores da Lei! Nos questiona sobre as nossas atitudes diante das “ovelhas perdidas” das nossas comunidades e famílias! Agimos como os fariseus, com censuras e moralismos? Ou, como Deus, com a loucura do amor?
Retoma-se a mensagem na segunda parábola - a parábola da “moeda perdida”. Não que ela fosse de tão grande valor. Mas para a pobre, até uma moeda pequena faz falta! Então, a mulher faz questão de virar a casa (as casas não tinham janelas, por isso precisava acender uma lâmpada) até achá-la. É assim com Deus - talvez a gente ache que uma pessoa não tenha grande valor, mas para Deus faz falta, e Ele é capaz de “exagerar” para recuperar a pessoa perdida, por tão insignificante que possa parecer. Mais uma vez, um contraste com a atitude elitista dos fariseus - e quem sabe, de muitos cristãos hoje!
Por fim, chegamos à parábola do “Filho Pródigo”, ou do “Pai que perdoa”, ou dos “Dois Irmãos”, conforme a interpretação e o gosto de cada um! Fiquemos somente com o texto sagrado e não com os subtítulos! Podemos ler este texto a partir do filho perdido, ou do pai, ou do irmão mais velho. O título tradicional implica uma leitura a partir do “pródigo” (= esbanjador). Assim, ressaltaria o processo de conversão - sentir a situação perdida, decidir a pedir reconciliação, ser aceito pelo pai, reativar os relacionamentos perdidos e estragados. Sem dúvida, uma leitura válida do texto como tal - mas diante dos primeiros três versículos do capítulo, não a interpretação primária que Lucas queria dar.
Outra possibilidade é de ler a história a partir do pai. Sem dúvida, também válido. Assim, o pai representa o próprio Deus, que em primeiro lugar, respeita a liberdade de decisão do filho, não impedindo que ele seja “sujeito” da sua vida; depois não espera a volta do “pródigo”, mas corre ao seu encontro, numa atitude não “digna” de um patriarca oriental idoso, preocupado mais com a reconciliação do que com o prejuízo, e que se alegra com a volta de quem estava morto! Mais uma vez, uma leitura mais do que aceitável!
Mas, o contexto do capítulo quinze, à luz dos primeiros versículos, sugere uma leitura diferente - a partir do irmão mais velho. Pois, Jesus conta a parábola para contestar a atitude dos fariseus e doutores da Lei, que o reprovam porque Ele acolhe os pecadores! Então, o filho mais velho é imagem dos fariseus - “gente boa”, fiel na observância da Lei, mas cujos corações estão fechados, a ponto de serem incapazes de alegrar-se com a volta de um irmão perdido. Assim, embora observem minuciosamente todas as prescrições da Lei, a sua atitude contradiz claramente a atitude de Deus!  No fundo a questão é, em que Deus acreditamos – um Deus que age com critérios humanos, não buscando nem acolhendo pecadores, ou o Deus de Jesus, “enlouquecido” pelo amor que faz “loucuras” para que ninguém se perca!  Aqui temos ecos de Is 55, 10-11, onde Deus afirma: “os meus caminhos não são os caminhos de vocês e os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês”. 
Aqui, Jesus questiona todos nós que somos “praticantes”. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho - “gente boa”, gente de “observância”, mas gente incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-nos com a volta ao estado original do irmão ou irmã perdido/a?
Podemos até dizer que o capítulo quinze de Lucas é o coração do seu Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o Deus de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estivesse perdido. É o Deus de misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus em nossas vidas?

Salmo - Sl 115 (116),12-13.17-18

R. Oferto ao Senhor um sacrifício de louvor

12Que poderei retribuir ao Senhor Deus*
por tudo aquilo que ele fez em meu favor?
13Elevo o cálice da minha salvação,*
invocando o nome santo do Senhor.R.

R. Oferto ao Senhor um sacrifício de louvor

17Por isso oferto um sacrifício de louvor,*
invocando o nome santo do Senhor.
18Vou cumprir minhas promessas ao Senhor*
na presença de seu povo reunido.R.

R. Oferto ao Senhor um sacrifício de louvor





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