Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 14,1.7-14
Oração do dia
Deus do
universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o vosso amor e
estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e
guardar com solicitude o que nos destes. Por N.S.J.C....
EVANGELHO
(Lucas 14,1.7-14)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 14,1
Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos
fariseus. E eles o observavam.
7 Jesus notou como os convidados
escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola:
8
"Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o
primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que
tu,
9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o
lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar.
10
Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando
chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser
uma honra para ti diante de todos os convidados.
11 Porque quem se
eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado".
12 E
disse também a quem o tinha convidado: "Quando tu deres um almoço ou um
jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus
vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua
recompensa.
13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os
pobres, os aleijados, os coxos, os cegos.
14 Então tu serás feliz!
Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição
dos justos".
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
O relato de hoje se situa no contexto de uma refeição
na casa de um chefe dos fariseus, que permanece no anonimato. Lucas tem o cuidado
de sublinhar que o evento aconteceu em dia de sábado, e que os fariseus estavam
observando Jesus para tentar pegá-lo em algum erro. Então, embora se trate de
uma refeição, não era uma confraternização, mas muito antes um confronto, mesmo
que camuflado.
Jesus aproveitou a oportunidade para nos deixar o seu
ensinamento sobre dois assuntos importantes para a vida dos discípulos: a opção
entre a humildade e o orgulho, e a gratuidade.
Como bom pedagogo, Jesus observa a vida ao seu redor,
e a usa para ensinar algo sobre Deus. Os fariseus eram muito bem vistos no meio
do povo simples. É um erro nosso pensar que a palavra “fariseu” seja sinônima de
“hipócrita”. Talvez essa ideia venha do Capítulo 23 de Mateus, que reflete a
situação de antagonismo entre eles e os discípulos de Jesus no tempo do escrito
- pelo ano 85 d.C., quando os fariseus estavam expulsando os cristãos
“mateanos” das sinagogas - mais do que a realidade do tempo de Jesus. Os
fariseus eram exímios observadores da Lei, mas muitas vezes caíam no perigo de
sentir-se superiores às massas que não podiam ou não conseguiam viver a Lei em
seus pormenores. Confiando na sua observância como garantia de salvação, na
prática dispensaram a gratuidade de Deus.
Vendo como os convidados buscaram os primeiros lugares
na refeição, Jesus nos dá a lição sobre buscar os últimos lugares na festa de
casamento. À primeira vista,
parece que Jesus está nos ensinando a ser falsos ou hipócritas; mas a verdade é
outra. O banquete desta história simboliza a nossa vida. Diante da vida,
podemos optar - buscar uma vida de prestígio, aos olhos do mundo, com todos os
privilégios que isso acarreta, ou buscar o serviço aos irmãos - nos
“humilhando”, pois quem servia era considerado menor do que quem era servido
(como geralmente ainda hoje é!). De novo Jesus nos coloca diante do seu próprio
exemplo - ele que veio “não para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida
em favor de muitos” (Mc 10, 46).
Como é atual este ensinamento! O nosso mundo é um
mundo classista, onde “quem pode mais, chora menos”, até nas Igrejas - como
gostamos de títulos, honras, prestígio! Em vão buscaremos nos Evangelhos
títulos de honra como “Eminência, “Santidade”, “Reverendo, “Reverendíssimo”!
Sem que notássemos, o mundo entrou nas nossas comunidades com as suas falsas
categorias!!” Como é empolgante ouvir o Papa Francisco advertir contra esta
busca de prestígio falso nas Igrejas, especialmente quando acontece entre
ministros ordenados, religiosos/as e seminaristas. Como ele disse numa homília há poucos meses, “a vida
religiosa e/ou sacerdotal não é para carreiristas ou alpinistas sociais”. Nada mais fez do que fazer eco ao
ensinamento de jesus
O centro da questão está em versículo 11: “de fato,
quem se eleva será humilhado, e quem se humilha, será elevado”. Não é uma
recomendação sádica para que procuremos ser humilhados, como muitas vezes se
pregava na formação da Vida Religiosa e na espiritualidade, antigamente. Pelo
contrário, é uma orientação para que não ponhamos o nosso valor nos títulos e honrarias
vãs que a sociedade tanto aprecia, mas no serviço humilde aos irmãos e irmãs,
unindo-nos à luta pelos oprimidos, que são humilhados pela sociedade de
consumismo e opulência.
Ato contínuo, Jesus nos orienta sobre a gratuidade.
Recomendando ao fariseu que ele não convide os que possam retribuir com outros
convites, ele nos põe diante do exemplo do próprio Deus, que é gratuidade
absoluta. Novamente os marginalizados servem como exemplo para o exercício de
gratuidade. Temos muitas indicações na literatura daquele tempo que tanto a
sociedade judaica como a greco-romana rejeitava este pessoal sofrido. Um
documento dos Essênios de Qumrã elenca as categorias que serão proibidas de
entrar no banquete escatológico: “os que têm problema na pele, com as mãos ou
os pés esmagados, os aleijados, os cegos, os surdos, os mudos; os que têm
defeito na vista ou que sofrem de senilidade”. A lista lucana adiciona a
categoria “os pobres”. Sabemos que na literatura judaica “os pobres” era muitas
vezes a designação usada para Israel e especialmente para os eleitos dentro de
Israel. Então Lucas está usando de ironia - mostrando que os verdadeiros
eleitos não são os que a sociedade assim considera, mas os realmente pobres,
marginalizados e sofredores!
O discípulo, “convidando-os”, ou seja, relacionando-se
com eles como igual para igual, não receberá deles a retribuição. Eles não
terão com o que retribuir, e assim seremos como Deus, que nos ama sem esperar
algo em retorno. Assim estaremos colocando a nossa confiança na gratuidade de
Deus, e não agindo de um modo calculista, como tanto se prega hoje: “é dando
que se recebe”, como dizem os politiqueiros cínicos, como também alguns
pregadores cristãos, interessados no acúmulo de dinheiro.
A imagem do banquete é simplesmente um símbolo.
A história nos desafia para que examinemos as nossas motivações mais profundas,
para que busquemos o serviço aos irmãos, e para que aprendamos de Deus, que é o
Amor Gratuito por excelência.
Salmo 67/68
Com carinho preparastes uma mesa para o pobre.
Os justos se alegram na presença do Senhor,
rejubilam satisfeitos e exultam de alegria!
Cantai a Deus, a Deus louvai,
cantai um salmo a seu nome!
O seu nome é Senhor: exultai diante dele!
Com carinho preparastes uma mesa para o pobre.
Dos órfãos ele é pai e das viúvas protetor:
é assim o nosso Deus em sua santa habitação.
é o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados,
quem liberta os prisioneiros e os sacia com fartura.
Com carinho preparastes uma mesa para o pobre.
Derramastes lá do alto uma chuva generosa,
e vossa terra, vossa herança, já cansada, renovastes;
e ali vosso rebanho encontrou sua morada;
com carinho preparastes essa terra para o pobre.
Com carinho preparastes uma mesa para o pobre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário