Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 16,1-13
Oração do dia
Ó Pai, que
resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o
vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO
(Lucas 16,1-13)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
— Naquele tempo, 16,1 Jesus disse a seus discípulos:
"Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado
de ter dissipado os seus bens.
2 Ele chamou o administrador e lhe
disse: 'Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já
não poderás administrar meus bens'.
3 O administrador refletiu
então consigo: 'Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a
terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha.
4 Já sei o que fazer,
para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego'.
5
Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou
ao primeiro: 'Quanto deves a meu patrão?'
6 Ele respondeu: 'Cem
medidas de azeite'. Disse-lhe: 'Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve:
cinqüenta'.
7 Depois perguntou ao outro: 'Tu, quanto deves?'
Respondeu: 'Cem medidas de trigo'. Disse-lhe o administrador: 'Toma os teus
papéis e escreve: oitenta'.
8 E o proprietário admirou a astúcia do
administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos
da luz no trato com seus semelhantes'.
9 Eu vos digo: fazei-vos
amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos
recebam nos tabernáculos eternos.
10 Aquele que é fiel nas coisas
pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas
pequenas, sê-lo-á também nas grandes.
11 Se, pois, não tiverdes
sido fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?
12
E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?
13
Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro,
ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao
dinheiro".
- Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Este texto faz parte de um capítulo aparentemente
fragmentado, mas que realmente tem como tema unificador o uso dos bens
materiais em benefício dos outros, especialmente dos mais necessitados.
Divide-se em quatro segmentos inter-relacionados: vv. 1-8a; vv. 8b- 13; vv.
14-18; vv. 19-31. Três destes trechos serão usados hoje e nos próximos dois
domingos.
A interpretação popular da primeira parte, a história do
“Administrador Injusto”, traz muitos problemas para os pregadores. Pois,
aparentemente, Jesus está elogiando quem agisse de maneira desonesta. Tal
interpretação é moralmente inaceitável. Por isso, temos que olhar bem a
história - os estudiosos não estão de acordo se trata-se de uma parábola, ou
uma “história-exemplo”, que Lucas também usa muito (10, 29-37; 12, 16-21; 16,
19-31;18, 9-14).
Para que entendamos melhor o contexto da história, é bom
saber que os documentos da época atestam que frequentemente se usava o sistema
aqui relatado. Como a cobrança de juros era proibida pela Lei, o administrador
embutiu o ágio na “nota promissória”. Por exemplo, uma pessoa talvez tivesse
emprestado 200 litros de azeite, mas por causa dos juros de 100%, a sua conta
acusava 400 litros. Então, na história de Lucas, o administrador, enfrentando a
demissão, resolve na mesma hora vingar-se do seu patrão - reduzindo as contas
devidas ao seu valor real, e assim perdendo para ele os juros - e fazer amigos
para ele mesmo, entre os devedores..
O “patrão” ou “Senhor” a que se refere o v. 8a não é Jesus,
mas o “homem rico” do v.1. Ele “elogiou” o administrador desonesto, por sua
esperteza! A palavra grega aqui traduzida por “esperteza” significa uma
estratégia prática visando alcançar um fim determinado. Tem nada a ver com a
virtude, no sentido mais geral de agir com justiça. Assim embora possa parecer,
à primeira vista, que Lucas esteja elogiando a desonestidade, a interpretação
mais exegética diz que o que deve ser imitado não é a desonestidade, mas o bom
senso na administração dos bens materiais.
Para os que entendem o trecho como uma verdadeira parábola,
há duas explicações possíveis; uma diz que o que Jesus quer ensinar é que os
seus discípulos, quando confrontados com a decisão de segui-Lo ou não, devem
agir de maneira decisiva, como fez o administrador quando confrontado com a sua
situação de crise, e não vacilar.
Outra interpretação vai na direção do “contraste”: o
sentido normal de justiça não condiz com a atitude condizente do patrão em v.8.
Assim, se faz contraste entre a maneira de agir dos homens e de Deus. Este
ponto de vista corresponde com outros ensinamentos em Lucas sobre a nova
justiça, a justiça do Reino e a dos homens - os critérios da “justiça do Reino
de Deus” não são os da sociedade, mas exigem o perdão e o relacionamento com os
inimigos.
A segunda parte do trecho - vv. 8b - 13 - são aplicações práticas
de como os discípulos devem usar os bens materiais. Indica o entusiasmo dos
“que pertencem a este mundo” como exemplo para os discípulos que muitas vezes
são insossos no seu seguimento de Jesus. “O dinheiro injusto”, que pertence a
um mundo com princípios de exploração, pode até servir aos discípulos quando
usado para a partilha com os necessitados, que se converterão em “amigos” que
“vão receber vocês nas moradas eternas” (v.9).
Outro ponto destacado é a necessidade de fidelidade diária.
Se nós partilhamos os nossos bens na convivência quotidiana, ganharemos os
verdadeiros bens imperecíveis como prêmio eterno. Mas isso exige fidelidade e
lealdade total a Deus - a alternativa é sucumbir às tentações da injustiça que
escraviza, - e a gente fica leal a este Deus através da partilha dos bens,
especialmente com os mais necessitados.
Embora possamos discutir e
debater sobre interpretações minuciosas do trecho, uma coisa é inegável - Jesus
quer advertir os seus seguidores sobre a tentação de escravizar-se com o
dinheiro, e na mesma hora, exigir que a partilha material seja ponto marcante
da vivência dos seus discípulos!
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