quarta-feira, 28 de agosto de 2013

26º DOMINGO COMUM - Ano C


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 16,19-31
“Mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos”



Oração do dia
Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que reservais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

EVANGELHO (Lucas 16,19-31)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. Naquele tempo, 16,19 disse Jesus aos fariseus: "Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. 
20 Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. 
21 Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico. Até os cães iam lamber-lhe as chagas. 
22 Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 
23 E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. 
24 Gritou, então: 'Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas'. 
25 Abraão, porém, replicou: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. 
26 Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá'. 
27 O rico disse: 'Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, 
28 para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos'. 
29 Abraão respondeu: 'Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!' 
30 O rico replicou: 'Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão'. 
31 Abraão respondeu-lhe: 'Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos'. 
- Palavra da Salvação.


COMENTÁRIO
Este último trecho do capítulo dezesseis continua os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas, ou melhor, sobre a questão fundamental da partilha dos bens como necessidade absoluta para os seus discípulos. Aqui temos a famosa parábola do “Rico e Lázaro”, e também a reflexão sobre o destino dos irmãos do rico. Levanta a questão: “irão seguir o exemplo do irmão rico, ou atender o ensinamento tanto de Jesus como do Antigo Testamento sobre o cuidado dos necessitados, como Lázaro, e assim se tornarem “Filhos de Abraão”?

Os destinatários do Evangelho de Lucas eram as comunidades urbanas das cidades gregas do Império Romano. A imagem da parábola é típica da sociedade urbana - tanto a de então como a de hoje! De um lado, o rico que esbanja dinheiro e comida em banquetes e futilidades, e do outro lado o pobre miserável, faminto e doente. Ambos vivem lado ao lado, sem que o rico tome conhecimento da existência e dos sofrimentos do pobre! Quantos exemplos disso existem hoje - lado ao lado com a maior opulência, a mais desumana miséria, e entre as duas situações uma barreira de cegueira e indiferença?
É muito interessante - e importante para a nossa compreensão da parábola - que os vv. 22-26 não dizem que o rico foi para o inferno por que ele fazia algo moralmente repreensível; e nem que Lázaro foi para o céu porque ele era “santo”. Por isso, por tão inconveniente possa soar numa sociedade como a nossa, dá para entender que esse trecho condena o rico simplesmente por ser insensível, em uma sociedade de empobrecimento, e abençoa o pobre pelo simples fato de estar sofrendo a miséria em uma sociedade que esbanja os bens necessários para a vida. É interessante que no texto o rico não tem nome, mas o pobre sim – “Lázaro” que dizer em hebraico “auxiliado por Deus”. A riqueza torna-se pecado diante da situação desumana dos pobres, pois é a negação da partilha e da solidariedade! O rico foi condenado porque ele simplesmente se fechou diante do sofrimento alheio – a parábola não diz uma palavra sobre o comportamento dele fora desse aspecto. Esse fechamento é a negação de todo o ensinamento do Antigo e do Novo Testamento. O simples fato de existir lado ao lado o rico opulento e o Lázaro sofrido é a condenação de uma sociedade pecaminosa que permite esta situação anti-evangélica.
A segunda parte da história, versículos 27-31, continua com o diálogo entre o rico e Abraão, e mostra claramente que a sua indiferença diante do sofrimento de Lázaro não estava de acordo com o Antigo Testamento (vv. 29-31), e nem com Jesus (v 9). Enfatiza que nem manifestações milagrosas vão mudar o coração duro de quem não quer ouvir a Palavra de Deus: “Abraão lhe disse: “Se eles não escutam a Moisés e os profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos”. (v. 31)
Palavra tão atual! Pois não é por falta de conhecimento da Palavra de Deus que o mundo se acha na sua situação atual. Não é por desconhecimento do ensinamento de Jesus sobre a fraternidade e a solidariedade, que temos uma sociedade excludente hoje no Brasil! Não é por falta de celebrações litúrgicas e sacramentais que há tanto sofrimento nas nossas ruas e bairros! É simplesmente porque a sociedade opta por se organizar conforme critérios anti-evangélicos, e porque tantos cristãos reduzem o cristianismo à uma série de leis e doutrinas - muitas vezes não ultrapassando muito de uma simples lista de “boas maneiras”. Optamos por diluir as exigências do Evangelho para que possamos continuar com os “ricos” e os “Lázaros” de hoje, lado ao lado, sem que estes incomodem aqueles! Sabemos o que a Bíblia diz, conhecemos muito bem o ensinamento de Jesus - e continuamos na construção de uma sociedade injusta, fundamentada sobre a idolatria do lucro, com a consequência automática do sofrimento e exclusão.
O rico e Lázaro continuam morando hoje em nossas cidades. Jesus hoje nos desafia para que optemos para uma outra forma de sociedade, onde todos terão acesso aos bens necessários para uma vida digna. Se não queremos ouvir o que nos diz a Palavra de Deus, se nós queremos continuar surdos diante do grito dos excluídos, então o nosso destino será também aquele do rico da história.
“Tenho medo de não atender,de fingir que não escutei; tenho medo de ouvir teu chamado, virar doutro lado e fingir que não sei!”
Lucas não deixa que o leitor evite as questões gritantes da ligação entre fé e vida, entre religião e economia - questões mais atuais do que nunca.



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