Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Missa da
Noite do Natal
Oração do dia
Ó Deus, que
fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz,
concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu
sua plenitude.
Evangelho
(Lucas 2,1-14)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
Aconteceu que naqueles
dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a
terra. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da
Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. Por ser da família
e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até a
cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua
esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias
para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o
colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Naquela
região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu
rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os
envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. O anjo, porém, disse aos
pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para
todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o
Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido
envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. E, de repente, juntou-se ao
anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória
a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.
Comentário ao Evangelho
Esta passagem é típica do estilo de Lucas e contém
muito material peculiar a ele. Ele toma as tradições de que Maria e José eram
de Nazaré e que Jesus nasceu em Belém, liga-as com as figuras de Augusto,
Herodes o Grande e o Governador Quirino, e através destas figuras tece um texto
que une oito dos seus temas favoritos: “comida”, “graça”, “alegria”, “pequenez”,
“paz”, “salvação”, “hoje”, e “universalismo”. Lucas é um verdadeiro artista das
palavras evangélicas!
Este trecho pode ser subdivido assim:
1) O contexto histórico e o nascimento de Jesus - 2,1-7
2) Pronunciamentos angélicos explicando o sentido de
Jesus - 2,8-14
3) Respostas aos pronunciamentos dos anjos - 2,15-20
A chave para a compreensão do texto se acha nos
versículos 11-14. Aqui Lucas apresenta Jesus como o Messias davídico que trará
o dom escatológico de paz, o Shalôm de Deus. Assim ele faz contraste com a
figura de César Augusto. Na impotência da sua infância, Jesus é o Salvador que
traz a verdadeira paz, em contraste com o poderoso Augusto, que era celebrado
no culto oficial imperial como o fundador de um reino de paz, a “Pax Romana”. O
“Shalom” é, na verdade, o contrário da “Pax Romana” como hoje seria o oposto da
pretensa “paz” imposta pelos canhões e bombardeiros da força militar prepotente
- a “Pax Americana!”. Essa revelação da parte dos anjos é recebida e aceita
pelos humildes pastores e meditada por Maria, modelo de fé, e os discípulos,
que terão que meditar e aprofundar o sentido de Jesus para eles, sem cessar!
Desde a Idade Média, o presépio tem mantido o seu
lugar como um dos símbolos mais caros aos cristãos. Porém, é bom não deixar que
a cena do nascimento de Jesus se torne uma cena somente sentimental, com
lembranças saudosas da nossa infância! O relato quer sublinhar a opção de Deus
que se encarnou como pobre, sem as mínimas condições para um parto digno. Em
nossos presépios, até o boi e o asno tomaram banho! A realidade de nascer numa
gruta ou estrebaria era diferente! Jesus nasce em condições semelhantes a
milhões de pobres e excluídos pelo mundo afora, nos dias de hoje! É mais uma
manifestação da fraqueza de Deus, que é mais forte do que os homens! (I Cor 1,
25).
Diferente de Mateus - que tem outros interesses
teológicos - os protagonistas dessa cena são os pastores. Na época, eles eram
considerados pessoas desqualificadas, marginais, sujas, ritualmente impuras.
Mas, é para essa gente que os anjos revelam o sentido do acontecido e são eles
os primeiros a encontrar Jesus recém-nascido. Assim, em Lucas, são pessoas à
margem da sociedade que testemunham o nascimento de Jesus e igualmente são
pessoas desqualificadas que são as testemunhas da Ressurreição - as mulheres!
Lucas não perde uma oportunidade para destacar a opção preferencial de Deus
pelos pobres e humilhados!
O trecho continua com mais três ênfases tipicamente
lucanas - “não ter medo”, “sentir e expressar alegria” e o termo “hoje”. Os
ouvintes poderão ter coragem e alegria, porque a salvação de Deus irrompe no
mundo “hoje” - não numa data futura distante. Esta idéia volta diversas vezes -
na sinagoga, depois de fazer a leitura de Isaías, Jesus dirá que “hoje
cumpriu-se essa passagem” (4, 21); a Zaqueu, Jesus afirma que “hoje a salvação
entrou nessa casa” (18, 9); ao condenado na cruz, Jesus garante que “hoje
estará comigo no paraíso” (23, 43). O Reino da Salvação está sendo inaugurado,
e por Jesus, na fraqueza da exclusão social, e não por César, com toda a pompa
da corte e das armas! Numa manjedoura e não num palácio imperial! Por parte de
quem carece de força e prestígio, e não pelos poderosos e fortes do mundo!
Os pastores não somente testemunham a presença do
recém-nascido em Belém, mas anunciam o que disseram os anjos (v. 17). Essa
Boa-Notícia complementa o que foi já anunciado à Maria em 1, 31-33, por Maria
em 1, 46-45, e por Zacarias em 1, 68-79. É muito significativo o termo que
Lucas emprega para descrever a reação de Maria: “Maria, porém, conservava todos
esses fatos, e meditava sobre eles em seu coração” (v. 19). Aqui Lucas retrata,
através de Maria, a atitude do/a discípulo/a diante dos mistérios de Deus,
revelados em Jesus - Maria não capta o significado pleno dos eventos e os
rumina no seu íntimo. A idéia volta de novo em Lc 2, 51: “Sua mãe conservava no
coração todas essas coisas”. É uma maneira de apontar para a caminhada de fé
que Maria trilhou - e que todos nós, que não captamos o sentido pleno da ação
de Deus em nossas vidas, teremos que andar.
O texto encerra afirmando que os pobres e
marginalizados - personificados nos pastores: “voltaram, glorificando e
louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido” (v. 20). Qualquer
celebração de Natal que não dê para os oprimidos motivo para alegria, coragem e
louvor a Deus, pode ser tudo, menos uma celebração cristã!
Salmo
95/96
Ref.: Nasceu hoje para
nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
1. Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!
Cantai e bendizei seu santo nome!
Cantai e bendizei seu santo nome!
Ref.: Nasceu hoje para
nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
2. Dia após dia anunciai sua salvação,
manifestai a sua glória entre as nações,
e entre os povos do universo seus prodígios!
E entre os povos do universo seus prodígios!
Ref.: Nasceu hoje para
nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
3. O céu se rejubile e exulte a terra,
aplauda o mar com o que vive em suas águas;
os campos com seus frutos rejubilem
e exultem as florestas e as matas.
Ref.: Nasceu hoje para
nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
4. Na presença do Senhor, pois Ele vem,
porque vem para julgar a terra inteira.
Governará o mundo todo com justiça,
e os povos julgará com lealdade.
Ref.: Nasceu hoje para
nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
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