Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Festa da Sagrada Família - Ano C
Lc 2, 41-52
Na Igreja Católica, hoje é celebrada a festa da Sagrada Família. Portanto, o trecho de Lucas põe em relevo os três membros da família de Nazaré, - mas tem como o seu tema principal, um ensinamento sobre quem é Jesus, a sua relação ao Pai e à sua família humana.
A história começa enfatizando a identidade da família humana de Jesus como judeus piedosos. Os regulamentos sobre as peregrinações ao Templo de Jerusalém, para a festa de páscoa, se encontram em Ex 23,17;34.23; Lev 23,4-14. Como consequencia, entendemos que o ambiente em que Jesus cresceu - e em que descobriu a sua vocação e missão - é aquele dos “pobres de Javé”, os devotos que esperavam a libertação de Israel, através da vinda do Messias davídico prometido. Esta viagem prefigura a grande viagem de Jesus à Jerusalém em Lc 9,51 - 19,27, que ela fará com os seus discípulos, e onde ele revelará por palavras e ações o seu relacionamento com o Pai - prefigurado aqui no versículo 49.
O texto salienta certas atitudes de Jesus. É bom prestar bem atenção aos verbos . Lucas diz que Jesus estava no templo entre os doutores:
“escutando e fazendo perguntas.” ( v. 46)
A atitude de Jesus é a dum aluno muito inteligente, e não dum mestre - ele não está “ensinando no Templo”, como muitas vezes dizemos em nossas tradições. Aqui, Lucas antecipa para os doze anos o que realmente ocorrerá mais tarde, quando Jesus realmente ensina no Templo, e sofre a rejeição e a perseguição por parte dos doutores de Lei e Sumos Sacerdotes.
O ponto central do texto se acha em versículo 49:
“Porque me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”
“Porque me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”
Aqui Lucas relata os primeiros palavras de Jesus na Evangelho. Agora não é Gabriel, nem Zacarias, nem Maria quem diz quem é Jesus, mas ele mesmo. A palavra que nos traduzimos como “devo”, em grego “dei”, transmite o tema de “necessidade”, que aparece no Evangelho 18 vezes e nos Atos dos Apóstolos 22 vezes, e “expressa um senso de compulsão divina, freqüentemente visto como obediência à uma ordem da escritura ou profecia, ou na conformidade de eventos com a vontade de Deus. Aqui a necessidade consiste na relacionamento inerente de Jesus a Deus que exige obediência.” (Marshall - “The Gospel of Luke”)
Em versículo 50, fica patente que os seus pais não entenderam que o seu relacionamento com o Pai celeste tomava precedência sobre a sua relação com eles:
“Eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer.”
A “espada”- a dor de sentir esta distanciamento, sem poder compreendê-lo - de que falou Simeão em 2,35, já começa a aparecer. Maria não compreende plenamente - retomando o tema de v. 19 - e tem que continuar a sua caminhada de fé, meditando sobre o sentido e identidade do seu filho. Fato encorajador para nós. Quantas vezes acontecem coisas nas nossas vidas que não compreendemos, nem conseguimos ver a vontade de Deus. Ao exemplo de Maria e José, aceitemos esta escuridão, continuemos a caminhada, mas nunca deixemos, numa atitude de oração de contemplação de “conservar no nosso coração todas essas coisas”!
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