Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Solenidade da Epifania do
Senhor - Ano C
Mt 2,1-12
“Viemos
prestar-lhe homenagem”
Hoje celebramos uma das grandes festas do Ciclo de Natal - a
Manifestação do Senhor (“Epifania” em grego), onde comemoramos o fato de que
Jesus foi manifestado, não somente ao seu próprio povo, mas a todos os povos e
nações, representados pelos Magos do Oriente. Embora a festa tenha muita
popularidade folclórica, também proclama uma grande verdade da fé - que a
salvação em Jesus é para todos os povos, sem distinção de raça, cor ou
religião. Retomando a grande intuição do profeta Isaías, celebramos hoje a
salvação universal em Jesus.
O texto de hoje é altamente simbólico - usa uma técnica da literatura
judaica chamada “midraxe”, ou seja, uma releitura de passagens bíblicas, com o
intuito de atualizá-las. Assim, Mateus quer ensinar algo sobre Jesus, usando
figuras e símbolos tirados de diversos textos do Antigo Testamento. Por
exemplo:
- Vêm os magos (nem três, nem reis!) buscando o Rei dos Judeus. Esses
magos lembram os magos que enfrentavam e foram derrotados por Moisés (Êx 7,11.22; 8,3.14-15; 9,11) e acabaram reconhecendo o poder de Deus nas maravilhas
feitas por Ele.
- A estrela é sinal da vinda do Messias, relendo a profecia de Balaão
em Nm 24, 17.- O menino nasce em Belém,
conforme a profecia de Miquéias (Mq 5, 1)
- Os presentes lembram as profecias de Segundo e Terceiro-Isaías, e dos
Salmos, sobre os estrangeiros que viriam a Jerusalém trazendo presentes para
Deus (Is 49, 23; 60,5; Sl 72, 10-11).
- Herodes, como o Faraó, massacra os filhos do povo de Deus (Êx 1,
8.16).
O texto chama a atenção pelas reações diferentes diante do nascimento
de Jesus. Os que deveriam reconhecer o messias - pois são versados nas
Escrituras - ficam alarmados, pois para eles, opressores do povo através da
religião e da política, Jesus e a sua mensagem constituem uma ameaça. Outros,
pagãos do oriente, buscando sem ter certeza, arriscam muito para descobrir o
verdadeiro Deus, e entregam-lhe presentes, sinal da partilha, grande
característica do Reino que Jesus veio pregar.
Hoje em dia, verificam-se as mesmas reações diante de Jesus e do seu
Evangelho. Muitos querem reduzir os eventos religiosos a algo folclórico com
shows e cantos, mas que de forma alguma possa questionar a nossa sociedade e os
seus valores. Para outros, o menino na estrebaria é um sinal do novo projeto de
Deus, o mundo fraterno, onde todas as pessoas de boa vontade têm que se unir,
seja qual for a sua raça, nação, gênero ou religião, para construir a
fraternidade que Deus quer.
Jesus não precisa de presentes, mas, sim do nosso esforço na vivência
do seu Reino. Na prática, temos que optar - para a vivência religiosa vazia
como a de Herodes e dos Sumos Sacerdotes, ou pela mensagem libertadora do
Menino de Belém, que convoca todas as pessoas de boa vontade, sem distinção de
raça, cultura ou tradição religiosa, representados hoje pelos magos, para a
construção do mundo de paz, fraternidade e justiça, pois Jesus veio para que
“todos tenham a vida e a tenham plenamente.” (Jo 10,10).
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