Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C
Jo 2,1-11
"Façam tudo o que ele lhes disser"
Oração do dia
Deus eterno
e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces
do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (João 2,1-11)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
2,1 Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e
achava-se ali a mãe de Jesus.
2 Também foram convidados Jesus e os seus discípulos.
3 Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já
não têm vinho.
4 Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora
ainda não chegou”.
5 Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos
disser”.
6 Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações
dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas.
7 Jesus ordena-lhes: “Enchei as talhas de água”. Eles
encheram-nas até em cima.
8 “Tirai agora”, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos
serventes. E levaram.
9 Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho,
não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham
tirado a água), chamou o noivo
10 e disse-lhe: “É costume servir primeiro o vinho bom e, depois,
quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu
guardaste o vinho melhor até agora”.
11 Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da
Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
A primeira parte do Quarto Evangelho é comumente chamada “O Livro dos Sinais”, pois o evangelista
relata uma série de sete sinais que, passo por passo, revelam quem é Jesus, e
qual é a Sua missão. Embora algumas bíblias traduzem o termo grego que João usa
por “milagre”, a tradução mais
acertada é “Sinal”. O primeiro desses
sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná, o evangelho de hoje. Como todo
o Evangelho de João, o relato está carregado de simbolismo, onde pessoas,
números e eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além da aparência
das coisas, numa caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.
Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da “hora” de Jesus. A
“hora” não se refere à cronometria, mas a hora de glorificação de Jesus, por
sua morte e ressurreição. Em resposta ao pedido feito por Maria (João nunca se
refere a Ela pelo nome, mas pelo título “mulher”), usando de uma maneira até
estranha este termo para a sua mãe, João quer indicar que Jesus rejeita uma
esfera meramente humana de ação para Maria, para reservar para ela um papel
muito mais rico, ou seja, o da mãe dos seus discípulos. Maria somente vai
aparecer mais uma vez neste evangelho - ao pé da cruz, onde Ela e o Discípulo
Amado assumem um relacionamento de Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo
Amado simboliza a comunidade dos discípulos do Senhor, ou seja, nós hoje.
Apesar da nossa tradição piedosa mariana, é importante não reduzir a
ação da Maria no texto à de uma incomparável intercessora. Embora seja comum
esta interpretação na devoção popular, não se sustenta do ponto de vista
exegético. É melhor ver Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a
resposta de Jesus indique um distanciamento entre a Sua expectativa e a visão
d’Ele, ela continua com confiança n’Ele e leva outros a acreditar n’Ele.
O simbolismo da água tornada vinho é também importante. Não era
qualquer água - era a água da purificação dos judeus. Com essa história, João
quer mostrar que doravante os ritos judaicos de purificação estão superados,
pois a verdadeira purificação vem através de Jesus. Podemos entender isso como
a mudança de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que
excluía muita gente, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir
de Jesus. Assim, em Caná, Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do
Templo, que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
A quantia do vinho chama a atenção - 600 litros! O vinho em abundância
era símbolo dos tempos messiânicos, e, na tradição rabínica, a chegada do
Messias seria marcada por uma colheita abundante de uvas. Assim João quer dizer
que a expectativa messiânica se realiza em Jesus. As talhas transbordantes
simbolizam a graça abundante que Jesus traz. A figura do mestre-sala é também
simbólica, bem como os serventes. Aquele, que devia saber a origem do vinho da
festa, não sabia, enquanto estes, sim. Assim, o mestre-sala representa os
chefes do Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto os servos
representam os discípulos que acreditaram n’Ele.
Fazendo comparação entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer
que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a superou. Os ritos e práticas
judaicos, ligados à purificação e ao sacrifício, não têm mais sentido, pois uma
nova era de relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus.
O ponto culminante do relato está em v. 11: “Foi em Caná que Jesus
começou os seus sinais, e os seus discípulos acreditaram n’Ele”. A fé deles não
é intelectual ou teórica; mas, o seguimento concreto do Mestre, na formação de
novos relacionamentos de amor. Passo por passo, o autor vai revelando Jesus
através de sinais para que nós, os leitores, possamos “acreditar que Jesus é o
Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome”
(Jo 20, 31).
Salmo 95/96
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!
Cantai e bendizei seu santo nome!
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
Dia após dia anunciai sua salvação,
manifestai a sua glória entre as nações
e, entre os povos do universo, seus prodígios!
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
Ó família das nações, dai ao Senhor,
ó nações, dai ao Senhor poder e glória,
dai-lhe a glória que é devida ao seu nome!
Oferecei um sacrifício nos seus átrios.
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
Adorai-o no esplendor da santidade,
terra inteira, estremecei diante dele!
Publicai entre as nações: “Reina o Senhor!”,
pois os
povos ele julga com justiça.
Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
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