terça-feira, 1 de janeiro de 2013

3º DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD



TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C
Lc 1,1-4; 4,14-21
"O Espírito do Senhor está sobre mim"

Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Lucas 1,1-4;14-21)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
2,1 Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós,
2 como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra.
3 Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo,
4 para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.
14 Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região.
15 Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.
16 Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17 Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito:
18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração,
19 para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor”.
20 E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
21 Ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir”.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho
O texto relata a primeira experiência da Vida Pública de Jesus. Deu-se na sua terra de criação - Nazaré. Na linguagem de hoje, Jesus foi para a capela da comunidade e foi convidado a fazer parte da equipe litúrgica, para fazer a segunda leitura! Naquela época, o culto da sinagoga tinha duas leituras - a primeira tirada da Lei, a segunda dos Profetas. Jesus, abrindo o livro do Profeta Isaías, encontrou a passagem que diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor” (4, 18-19). Não que Ele encontrasse esta passagem por acaso! Pelo contrário - Jesus procurou até achar, pois Ele identificava a sua missão com aquela descrita pelo profeta. Por isso, na hora da homilia, começou com a frase chocante: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir” (4, 21). Jesus identificou a sua missão com a do Capítulo 61 de Isaías. Nós, como discípulos d’Ele, temos a mesma missão. Olhemos os elementos:

 a) “Anunciar a Boa Notícia aos pobres”: O evangelho é “Boa-Notícia” - não uma série de leis, nem uma lista de práticas rituais, nem uma moral (embora tenha todos estes elementos), mas uma experiência de Deus que traz alegria, felicidade, - para os pobres! Portanto, Ele toma posição - o que é boa notícia para uns, é má-notícia para outros! O que é boa notícia para o oprimido, é má notícia para o opressor! Não existe uma Boa-Notícia neutra, igualmente boa para todos! E não devemos diluí-lo a termo “pobre” - aqui não é o pobre de espírito, nem de coração, nem de fé... é o pobre mesmo, aquele/a que não tem o necessário para uma vida digna (Lucas usa o termo grego “ptochois”, que significa mais ou menos “indigente”). Com certeza, na nossa sociedade inclui todos os excluídos.
 b) “Proclamar a libertação aos presos”: Não só aos na cadeia, mas que estão sem a liberdade dos filhos de Deus - presos hoje pelas consequências do neo-liberalismo, do desemprego, do salário mínimo; pelas correntes de racismo, machismo, clericalismo, e tudo que oprime! Também aos presos no seu próprio egoísmo, pois o assumir dos valores evangélicos vai libertá-los. Porém, esta libertação passa pela mudança radical na sua maneira de viver.
c) “Aos cegos a recuperação da vista”: Quanta gente cega hoje! E não por doença dos olhos, mas cegada pela ideologia dominante que não deixa ver a realidade do mundo e dos sofridos; pelas falsas utopias alienantes e pela manipulação de informação pelos meios de comunicação, dominados pela elite, que “fazem a cabeça”; quantos cegos diante da possibilidade de mudança através da força histórica dos oprimidos! Vale a pena notar que o texto enfatiza a “recuperação” da vista - não a doação dela. Ou seja, trata-se de ajudar os/as que uma vez viram a realidade com os olhos de Deus, mas foram cegados pela ideologia dominante ao ponto de não enxergarem mais a verdade.
d) “Libertar os oprimidos”: Aqui há o eixo fundamental de toda a Bíblia - o Êxodo, como processo permanente. No livro de Êxodo, Deus se identificou como o Deus que liberta os oprimidos (Êx 3, 76-10). Jesus se coloca - e coloca todos os seus seguidores - neste mesmo compromisso. Hoje a época é diferente, mas a opressão continua, e Deus nos conclama para que todos nós nos empenhemos nesta luta para concretizar a libertação dos oprimidos.
e) “Proclamar o ano de graça do Senhor”: O Ano da Graça - o Ano Jubilar! Memória da proposta do Lv 25, o ano do perdão das dívidas, da libertação dos escravos, da devolução das terras aos seus donos originais!
Como concretizar, na realidade do Brasil de hoje, esta visão? O que significa hoje o perdão das dívidas, a libertação dos escravos e a devolução das terras? Questões evangélicas da fé, que têm fortes consequências políticas e econômicas (como veremos logo na Campanha de Fraternidade) e desafiam a tendência à uma religião intimista, individualista e desencarnada da realidade. Pois júbilo, alegria, não pode ser decretado - tem que brotar de algum motivo profundo.
Aqui o próprio Jesus fala da sua missão, que é também a nossa. Pois, fomos todos “consagrados com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar o ano da graça do Senhor” (4, 18-21).

Salmo 18B/19

Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!

A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
sabedoria dos humildes.

Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!

Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração,
o mandamento do Senhor é brilhante,
para os olhos é uma luz.

Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!

É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.

Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!

Que vos agrade o cantar dos meus lábios
e a voz da minha alma;
que ela chegue até vós, ó Senhor,
meu rochedo e redentor!

Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!



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