Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA - Ano C
Lc 4,1-13
"Você adorará o Senhor seu
Deus e somente a Ele servirá"
Proclamação do Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas. 1Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e
foi levado pelo Espírito ao deserto,
2onde foi tentado pelo demônio
durante quarenta dias. Durante este tempo ele nada comeu e, terminados estes
dias, teve fome.
3Disse-lhe então o demônio: "Se és o Filho de
Deus, ordena a esta pedra que se torne pão".
4Jesus respondeu:
"Está escrito: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de
Deus'".
5O demônio levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe
num só momento todos os reinos da terra,
6e disse-lhe:
"Dar-te-ei todo este poder e a glória desses reinos, porque me foram
dados, e dou-os a quem quero.
7Portanto, se te prostrares diante de
mim, tudo será teu".
8Jesus disse-lhe: "Está escrito:
'Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás'".
9O demônio
levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-lhe: "Se
és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10porque está escrito:
'Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem.
11E que
te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra'".
12Jesus
disse: "Foi dito: 'Não tentarás o Senhor teu Deus'".
13Depois
de tê-lo assim tentado de todos os modos, o demônio apartou-se dele até outra
ocasião.
- Palavra
da Salvação.
O texto expressa a luta interna de Jesus, que na realidade se deu ao longo da sua vida pública, em discernir o caminho a seguir, depois de assumir a sua missão no batismo. Jesus era totalmente humano, e assim enfrentava sempre as tentações de seguir o caminho de um messianismo falso, que não fosse o caminho do Servo de Javé. A experiência de Jesus é como a nossa; entre o nosso compromisso com o projeto de Deus e a sua vivência prática existem muitas tentações!
Jesus estava “repleto do Espírito
Santo”, e era “conduzido pelo Espírito através do deserto”. O Espírito Santo
não o conduz à tentação, mas é a força sustentadora d’Ele durante as suas
tentações. Como o Espírito dava força a Jesus, Lucas ensina às suas comunidades
que elas também poderão contar com este apoio nos momentos difíceis da vivência
da sua fé!
As tentações são as mesmas que
enfrentamos na nossa caminhada da fé hoje! Primeiro Jesus é tentado para mandar
que uma pedra se torne pão. Aqui é a tentação do “prazer” - logo que enfrenta
sofrimento e sacrifício por causa da sua missão, Jesus é tentado a escapar
dele! Uma tentação das mais comuns hoje, em um mundo que prega a satisfação
imediata dos nossos desejos em uma sociedade que cria necessidades falsas
através de sofisticadas campanhas de propaganda. Uma sociedade de
individualismo, onde a regra é “se quiser, faça!”, onde o sacrifício, a doação
e a solidariedade são considerados como ladainha dos perdedores! Jesus é
contundente: “Não só de pão vive o homem” (v. 4). Vivemos de pão, mas, não só!
Jesus não é contra o necessário para viver dignamente. Mas, salienta que não é
somente a posse de bens que traz a felicidade, mas a busca de valores mais
profundos, como a justiça, a partilha, a doação, a solidariedade com os
sofredores. Não faz contraste falso entre bens materiais e espirituais -
precisa-se de ambos para que se tenha a vida plena! Jesus desautoriza tanto os
que buscam a sua felicidade na simples posse de bens, como os que dispensam a
luta pelo pão de cada dia para todos!
A segunda tentação pode ser visto
como a do “ter”. Algo atual! Vivemos na sociedade pós-moderna da globalização
do mercado, do neo-liberalismo, do “evangelho” do mercado livre. Diariamente a
televisão traz para dentro das nossas casas a mensagem de que é necessário “ter
mais”, e que não importa “ser mais”! A tentação vem em forma atraente - até a
Igreja pode cair na tentação de achar que a simples posse de bens, que podem
ser usados em favor da missão, garantirá uma atuação mais evangélica. Somos
tentados a não acreditar na força dos pobres, das “pessoas comuns”, dos
leigos/as, dos “fracos” aos olhos da sociedade, ou seja, de não seguir o
caminho do carpinteiro de Nazaré. Jesus também enfrentou esta tentação – Ele,
que veio para ser humano com a humanidade, pobre com os pobres, para mostrar o
Deus que opta preferencialmente pelos marginalizados, é também tentado a
confiar nas riquezas! Para o diabo - e para o nosso mundo que idolatra o
bem-estar material e o lucro, mesmo às custas da justiça social - Jesus afirma:
“Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (v. 8).
A terceira tentação pode ser
entendida como a do “poder”. Uma tentação permanente na história das Igrejas e
dos cristãos. Quantas vezes as Igrejas confiavam mais no poder secular do que
na fragilidade da cruz, para “evangelizar”. Quanta aliança entre a cruz e a
espada - a América Latina que o diga! Ainda hoje enfrentamos esta tentação -
não de ter poder para servir, mas de confiar no poder deste mundo, mais do que
na fraqueza aparente de Deus, assim contradizendo o que Paulo afirmava: “A
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25), e “Deus escolheu
o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte” (1Cor 1, 27). Jesus,
que veio para servir e não para ser servido, que veio como o Servo de Javé e
não como dominador, teve que clarear a sua vocação e despachar o diabo com a
frase: “Não tentarás o Senhor seu Deus”.
Realmente, podemos nos encontrar nas
tentações de Jesus! São as do mundo moderno - o ter, o poder e o prazer! Todas
as coisas são boas em si, mas altamente destrutivas quando tomam o lugar de
Deus em nossas vidas! Jesus teve que enfrentar o que nós enfrentamos - o
“diabo” que está dentro de nós, o tentador que procura nos desviar da nossa
vocação de discípulos/as-missionários/as. O texto nos coloca diante da
orientação básica para quem quer vencer: “Você adorará o Senhor seu Deus, e
somente a ele servirá” (v. 8)
Nenhum comentário:
Postar um comentário