Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
Missa do Dia de Natal
Jo 1, 1-18
“O Verbo se fez carne e armou sua tenda no meio de nós”
Embora sejamos muito mais familiarizados com as
leituras de Lucas, referente ao nascimento do Salvador em Belém, na realidade o
Evangelho da Missa do Dia, tirado do prólogo de João, nos traz o sentido
profundo dos eventos do primeiro Natal.
O texto gira ao redor do “Verbo” ou “Palavra” –
“Logos” em grego. Enquanto Marcos somente começa o seu relato do Evangelho de
Jesus com o seu batismo e Lucas e Mateus remontam até a sua concepção, o Quarto
Evangelho liga Jesus à sua preexistência, desde o começo:
“No princípio já existia a Palavra
e a Palavra estava com Deus
e a Palavra era Deus......
a Palavra se fez homem
e armou sua tenda entre nós”( 1, 1.14)
Mesmo que se expresse sobre Jesus em termos não tão
familiares para nós (Verbo, ou Palavra), João se coloca bem na tradição do
Antigo Testamento. Embora use a palavra grega “Logos”, para expressar a
identidade de Jesus como o Verbo, na sua mente não está uma discussão abstrata
sobre o Logos dos filósofos gregos, mas muito mais o sentido teológico do termo
hebraico “Dabar”, que indica a Palavra criadora, congregadora e libertadora de
Deus, expressão do Deus de amor de libertação.
O projeto de Deus acontece quando essa palavra se fez
homem, armou a sua tenda (ou acampou) entre nós. O verbo grego usado
“eskênôsen” deriva-se do termo “skêne, que significa uma tenda de campanha. Na
visão do Quarto Evangelho, A Palavra, o Verbo Divino, “armou sua tenda” no meio
da humanidade, não “ergueu o seu Templo!” Templo é fixo, tenda é móvel, ou
seja, aonde anda o povo, lá estará a Palavra Viva de Deus, encarnada na pessoa
e projeto de Jesus de Nazaré. Nele e por ele a Palavra Criadora age, operando a
salvação aqui na terra. Podemos afirmar que o mistério da Palavra tem agora
como centro a Pessoa de Jesus Cristo, inseparável da sua missão e projeto.
Mas essa encarnação tornou-se o divisor das águas
para a humanidade. Pois “Veio aos seus e os seus não a acolheram”. Assim o
texto desafia qualquer acomodação que porventura possa existir entre os
cristãos, pois "acolher” a Palavra encarnada não é em primeiro lugar uma
crença intelectual, mas o assumir dum projeto de vida, o seguimento de Jesus de
Nazaré. É uma adesão radical à pessoa e missão de Jesus, continuada em nós
hoje. Como diz o Evangelho de Mateus, “nem todo aquele que me disser “Senhor,
senhor!” entrará no reino de Deus, mas aquele que cumprir a vontade de meu Pai
do céu”(Mt 7,21).
O nosso texto nos anima para que não esfriemos no
seguimento de Jesus, e nos diz “Aos que a receberam, os tornou capazes de ser
filhos de Deus, os que creram nele, os que não nasceram do sangue, nem do
desejo da carne, nem do desejo do homem, mas de Deus” (Jo 1,12s).
Que a celebração da grande festa de hoje nos confirme
na nossa fé nesse Deus que se encarnou entre nós, “tomando a condição de
escravo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fil 2, 7) e como resultado dessa
renovação espiritual nos encoraje para continuarmos na luta para criar o mundo
que Deus quer – de justiça, solidariedade e fraternidade, no caminho do Reino,
onde “todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Como nos diz
Hebreus: "Corramos com perseverança na corrida, mantendo os olhos fixos em
Jesus, autor e consumidor da fé...Para que vocês não se cansem e não percam o
ânimo, pensem atentamente em Jesus”(Hb 12, 1-3)
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