Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 10,25-37
“Vá, e faça a
mesma coisa”
Oração do dia
Ó Deus, que
mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a
todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão e abraçar tudo
o que é digno desse nome. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
EVANGELHO
(Lucas 10,25-37)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 10,25
Levantou-se um doutor da lei e, para pô-lo à prova, perguntou: "Mestre,
que devo fazer para possuir a vida eterna?"
26 Disse-lhe
Jesus: "Que está escrito na lei? Como é que lês?"
27
Respondeu ele: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a
tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo
como a ti mesmo".
28 Falou-lhe Jesus: "Respondeste bem;
faze isto e viverás".
29 Mas ele, querendo justificar-se,
perguntou a Jesus: "E quem é o meu próximo?"
30 Jesus então
contou: "Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de
ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos
ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto.
31 Por acaso
desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante.
32
Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante.
33
Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de
compaixão.
34 Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas
azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma
hospedaria e tratou dele.
35 No dia seguinte, tirou dois denários e
deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: 'Trata dele e, quanto gastares a mais, na
volta to pagarei'.
36 Qual destes três parece ter sido o próximo
daquele que caiu nas mãos dos ladrões?"
37 Respondeu o doutor:
"Aquele que usou de misericórdia para com ele". Então Jesus lhe
disse: "Vai, e faze tu o mesmo".
- Palavra da Salvação.
- Glória
a Vós, Senhor!
COMENTÁRIO
A parábola do “Bom Samaritano” talvez seja, junto com a parábola
do “Filho Pródigo”, a mais conhecida de todas as parábolas de Jesus. Por isso
mesmo, corre o risco de ser banalizada, de não ser levada muito a sério, de ser
relegada quase ao nível de folclore religioso. Merece uma atenção mais
minuciosa.
A parábola situa-se logo após Jesus ter louvado o Pai por ter
“escondido essas coisas aos sábios e inteligentes e revelado aos pequeninos”
(Lc 10, 21). Realmente, o primeiro a tentar atrapalhar Jesus é um “sábio e
inteligente” - um especialista em leis. Lucas salienta que ele fez a pergunta:
“O que devo fazer para receber em herança a vida eterna” (v.25), não porque ele
se interessava pela verdade, mas “para tentar Jesus”. Devolvendo a pergunta a
ele, Jesus deixa claro que o legista já sabia a resposta: “Ame o Senhor, seu
Deus, como todo o seu coração, com toda a sua alma, como toda a sua força e com
toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo.” Jesus simplesmente diz:
“Você respondeu certo. Faça isso e viverá” (v. 28).
Mas, com a petulância típica do pseudo-intelectual, ele insiste,
“para se justificar”, com uma segunda pergunta: “E quem é o meu próximo?” (v.
29). Mas, Jesus não cai na cilada de fazer uma discussão teórica e estéril
sobre quem seja o próximo - ele logo traz o debate para o nível prático da
vivência. Ele conta a parábola do “Bom Samaritano”. Vejamos:
Depois do assalto, passou pela vítima um sacerdote que “viu o
homem e passou adiante pelo outro lado” (v. 31). A mesma coisa aconteceu com um
levita. Por quê será que esses homens - ligados ao culto judaico - agiram
assim? A resposta está nas leis de pureza daquela época. O contato com um
defunto, ou com sangue, deixava a pessoa ritualmente impura, isso é, inapta
para participar do culto. Como o homem estava coberto de sangue, e talvez
morto, os dois não se arriscavam a tocar nele, pois, para eles o culto religioso
era mais importante do que a misericórdia para com uma pessoa sofrida. Não era,
em si, uma atitude somente pessoal de duas pessoas maldosas, mas demonstra uma
tentação permanente de pessoas ligadas ao culto e o mundo tido como “sagrado” -
o perigo de viver alienadas do mundo real, onde as pessoas vivem, sofrem, e
lutam todos os dias.
Entra em cena um samaritano. A religião dele era considerada
como cheia de deformações e ignorância pelo judaísmo oficial, pois desde a
invasão da Assíria em 721 a.C, a prática religiosa do povo samaritano tinha
sido contaminada por religiões pagãs (2Rs 17, 24-31). Mas, quando ele vê o
sofrimento alheio, ele não pensa em discussões teológicas sobre pureza, mas
parte para uma ajuda prática, com misericórdia.
Terminando a história, Jesus devolve a pergunta ao especialista
em leis - mas faz uma mudança fundamental! Não faz a pergunta teórica “quem é o
meu próximo”, mas uma pergunta prática “quem se fez próximo do homem que caiu
nas mãos dos assaltantes?” A primeira pergunta só levaria a uma discussão
vazia; a de Jesus leva a uma mudança de prática vivencial.
Forçado a reconhecer que quem se fez próximo do sofredor era o
samaritano, o legista ouviu da boca de Jesus a conclusão: “Vá e faça a mesma coisa”
(v. 37).
Com essa parábola, Jesus quer ensinar que nada, nem o culto, tem
prioridade sobre a ajuda a uma pessoa necessitada. A religião de Jesus não é
teoria, é prática de misericórdia, pois, Deus é misericordioso. Como diz o
Evangelho de Mateus, baseando-se em Oséias 6, 6: “Aprendam, pois, o que
significa: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício”. Porque, eu não vim
chamar justos, e sim pecadores”(Mt 9, 13). O legista já sabia a orientação da
Escritura, mas tentava escapar das suas consequências, criando discussões
inúteis. Nós também sabemos o que diz a Bíblia, - não tentemos esvaziá-la com
debates estéreis sobre quem é “o pobre”, “o aflito”, “o próximo”, “o bom”.
Façamos o que Jesus ensina nessa parábola “e viveremos”.
Salmo 68/69
Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá!
Por isso elevo para vós minha oração
Neste tempo favorável, Senhor Deus!
Respondei-me e pelo vosso imenso amor,
Pela vossa salvação que nunca falha!
Senhor, ouvi-me, pois suave é vossa graça,
Ponde os olhos sobre mim com grande amor!
Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá!
Pobre de mim, sou infeliz e sofredor!
Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus!
Cantando, eu louvarei o vosso nome
E, agradecido, exultarei de alegria!
Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá!
Humildes, vede isto e alegrai-vos:
O vosso coração reviverá
Se procurardes o Senhor continuamente!
Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres
E não despreza o clamor de seus cativos.
Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá!
Sim, Deus virá e salvará Jerusalém,
Reconstruindo as cidades de Judá.
A descendência de seus servos há de herdá-las,
E os que amam o santo nome do Senhor
Dentro delas fixarão sua morada!
Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá!
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