Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 10,38-42
Oração do dia
Ó Deus, sede
generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da
vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos
fielmente os vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO (Lucas 10, 38-42)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas - 10,38 Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma
mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa.
39 Tinha ela uma irmã
por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar.
40
Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: "Senhor, não
te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude".
41
Respondeu-lhe o Senhor: "Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas
com muitas coisas;
42 no entanto, uma só coisa é necessária; Maria
escolheu a boa parte, que lhe não será tirada".
- Palavra da
Salvação.
- Glória a Vós, Senhor!
COMENTÁRIO
Mais uma vez, o Evangelho de Lucas destaca o fato que Jesus e os
seus discípulos “caminhavam”. É caminhando que se faz caminho, e é no caminho
que se aprende o que é ser discípulo de Jesus. Todos nós estamos “no caminho”,
como Jesus e os outros, só que a nossa caminhada não se mede em quilômetros,
mas em anos!
O Evangelho de hoje frisa muito o lado afetivo de Jesus e dos
seus discípulos e discípulas. Jesus se dirige à casa de uma família em Betânia,
perto de Jerusalém. Era o lugar predileto onde Jesus procurava - e recebia -
aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as
suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras. Do Evangelho do Discípulo Amado
aprendemos que: “Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro” (Jo 11, 5). Este tipo
de relacionamento humano é necessário para que formemos verdadeiras comunidades
cristãs - e quantas vezes dispensamos esse elemento fundamental!
É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta,
provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres - afinal tinham
chegado hóspedes para uma refeição, e tinham que ser bem tratados; Maria,
calma, senta-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o
desabafo de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com
todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!” (v. 40). Instintivamente, a
nossa simpatia fica com a Marta. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o
anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentia? Por isso mesmo, chama
a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada
com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor
parte, e esta não lhe será tirada.” (v. 41s).
Uma coisa é óbvia - Jesus não está defendendo a preguiça, a
omissão, a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o nosso,
que não nos deixa tempo para cultivar o relacionamento humano, a amizade, a
oração, o nosso próprio ser, esta resposta nos faz lembrar a importância de
viver de uma maneira que prioriza as coisas. É óbvio que nós temos que
preocuparmo-nos com os afazeres, os trabalhos, - mas na verdade, quantas vezes
nós enchemos os nossos dias com ativismo, atividades fúteis, agitação, - e
assim não conseguimos escutar nem nós mesmos, nem os irmãos, nem o próprio
Deus!
Jesus aqui questiona a agitação e o ativismo - que não se mede
pelo número de atividades. O ativismo é uma fuga, uma fuga de um encontro com
os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos de Deus, refugiando-nos em
um número sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem
rumo. A atitude de Maria é a de uma discípula, que aprende viver de maneira
nova, ouvindo e ruminando a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar à muita
atividade, mas nunca ao ativismo.
Jesus de forma alguma quer menosprezar a
Marta. Aliás, diversas vezes os evangelhos põem Marta em mais relevo do que
Maria. O próprio Lucas diz que foi Marta que recebeu Jesus na sua casa (v. 38).
Em João, é Marta que faz a profissão de fé em Jesus, que nos Sinóticos é feita
por Pedro: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que
devia vir a este mundo” (Jo 11, 27). Na realidade, todos nós temos que ser
“Marta e Maria”. Temos necessidade de dedicarmo-nos aos nossos afazeres, mas
também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O desafio é de
conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida, entre “lançar as redes”
e “consertar as redes” (Mc 1, 16-20), entre “atividade” e “oração”, entre
“missão” e “interiorização”. Pois, os dois lados são tão intimamente ligados
que o desequilíbrio, do lado que for, trará consequências negativas para a
nossa vida de discípulos e discípulas. Também aqui nos traz um alerta – com uma
certa frequência: corremos o risco de sobrecarregar as pessoas leigas tão
dedicadas às comunidades! Devemos sempre lembrar que elas também precisam de
tempo para cultivar os seus laços familiares, de aprofundar a sua própria
experiência de Deus, de descanso. Não é a vontade de Deus que alguém “se
queime” de tanto serviço, mesmo na evangelização. Precisamos ser sempre “Marta
e Maria”.
Salmo 14/15
Senhor, quem morará em vossa casa?
É aquele que caminha sem pecado
e pratica a justiça fielmente;
que pensa a verdade no seu íntimo
e não solta em calúnias sua língua.
Senhor, quem morará em vossa casa?
Que em nada prejudica o seu irmão
nem cobre de insultos seu vizinho;
que não dá valor algum ao homem ímpio,
mas honra os que respeitam o Senhor.
Senhor, quem morará em vossa casa?
Não empresta o seu dinheiro com usura
nem se deixa subornar contra o inocente.
Jamais vacilará quem vive assim!
Senhor, quem morará em vossa casa?
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