Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DÉCIMO OITAVO DOMINGO COMUM - Ano C
Lucas 12,13-21
“Tenham cuidado com qualquer
tipo de ganância”
Oração do dia
Manifestais, ó
Deus, vossa inesgotável bondade para com os filhos e filhas que vos imploram e
se gloriam de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa
criação e conservando-a renovada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO
(Lucas 12,13-21)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas - Naquele tempo, 12,13 disse a Jesus alguém do
meio do povo: "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a
herança".
14 Jesus respondeu-lhe: "Meu amigo, quem me
constituiu juiz ou árbitro entre vós?"
15 E disse então ao
povo: "Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um
homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas".
16 E propôs-lhe esta parábola: "Havia um homem rico cujos
campos produziam muito".
17 E ele refletia consigo: 'Que
farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita'.
18 Disse
então ele: 'Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei
maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens.
19
E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para
muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te'.
20 Deus,
porém, lhe disse: 'Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as
coisas, que ajuntaste, de quem serão?'
21 Assim acontece ao homem
que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus".
- Palavra da
Salvação.
- Glória a Vós, Senhor!
COMENTÁRIO
Mais uma vez
nos deparamos com um dos temas favoritos de Lucas - o combate à ganância, em
todas as suas formas, especialmente dentro da comunidade dos discípulos de
Jesus. A parábola de hoje só se encontra neste Evangelho, sublinhando assim o
interesse de Lucas pelo assunto.
Ressoa com
todas as letras a advertência de Jesus para os seus discípulos: “Atenção!
Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância” (v. 15b). Com certeza, a
caminhada de mais ou menos cinquenta anos das comunidades cristãs, até a data
do escrito de Lucas, tinha mostrado que os cristãos não eram isentos da tentação
da acumulação de bens, e do individualismo. Cumpre assinalar que o Evangelho não
nega o valor nem a necessidade de bens materiais. Afinal, sem eles não seria
possível ter uma vida digna e humana - o que Deus quer para todos os seus
filhos e filhas. A luta não é contra os bens, mas contra a ganância, o egoísmo,
a acumulação, a confiança no aumento dos bens como valor supremo das nossas
vidas.
Se foi
importante fazer esta advertência há quase dois mil anos, quanto mais hoje,
quando nós vivemos mergulhados em um mundo de consumismo e materialismo; quando
se prega o “evangelho” da competitividade e acumulação; onde os profetas do
projeto neo-liberal da exclusão entram todos os dias em nossos lares, através
da televisão e da internet; onde a meta do sistema é concentrar cada vez mais
bens nas mãos de uma elite privilegiada, excluindo, cada vez mais, pessoas que
não podem competir. Até Deus e a religião se tornam bens rentáveis, com certos “pregadores
do Evangelho”, auto-denominados de “Apóstolos” “Bispos” ou “Pastores” se
enriquecendo escandalosamente às custas dos fiéis ingênuos e manipulados.. Como
nós cristãos vivemos mergulhados neste ambiente, acontece muitas vezes que, sem
dar conta do fato, nós o assimilamos, como por osmose, diluindo o evangelho da
fraternidade e solidariedade, e reduzindo a prática religiosa ao âmbito individual
e intimista, tirando dela a sua força transformadora. Os pronunciamentos recentes do Papa Francisco sobre esse
assunto são mais do que oportunos.
O rico da
parábola muito bem poderia representar a ideologia do sistema vigente dos
nossos dias. Chama a atenção o número de vezes que ele usa as palavras “eu”, “meu”
“minha” - é um homem totalmente fechado no seu mundinho, fechado sobre si, sem
sensibilidade diante dos sofrimentos e necessidades dos irmãos e irmãs.
Jesus o
chama de “louco” - não por ter o suficiente para viver bem, nem por alegrar-se
com este fato, mas por colocar o sentido da sua vida na acumulação de riquezas,
achando que isso lhe traria a felicidade por si. A pergunta que Jesus faz: “E
as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” (v. 20), levanta a pergunta
fundamental que todos nós temos que responder: qual é o sentido da nossa vida?
O que é realmente importante? Sobre o que baseamos a nossa felicidade? Pois,
tudo passará - e então seria tolice fundamentar a nossa felicidade sobre algo
que necessariamente vai acabar. É um convite para que achemos o alicerce firme
para a nossa caminhada, para a nossa felicidade. Podemos construir as nossas
vidas sobre areia - movediça, sem firmeza; ou sobre a rocha - firme e imutável.
Sobre coisas efêmeras, ou sobre Deus e o seu projeto de solidariedade,
fraternidade e partilha.
O homem da parábola
terminou a sua vida na frustração, perdeu tudo, e a sua vida acabou sem
sentido. E Jesus nos adverte: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si
mesmo, mas não é rico para Deus!” (v. 21). A escolha é nossa!
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